Sábado,
dia 15 de setembro foi um dia muito especial para a minha formação enquanto
pessoa, para além da educadora, mas também para a educadora. Fui, juntamente
com minhas colegas e meus colegas do Grupo de Estudos das escolas de Taipas,
Jaraguá e Morro Grande, conhecer a Escola Nacional Florestan Fernandes,
em Guararema, SP.
Para
quem não conhece, a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) é um centro
nacional de Formação do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra),
recebe militantes de todo o movimento, inclusive também de movimentos sociais
de toda a América Latina. É carinhosamente apelidada de “Universidade dos
Trabalhadores”.
Situada em Guararema (a 70
km de São Paulo) e inaugurada em 23 de janeiro de 2005, a ENFF foi construída
entre os anos de 2000 e 2005, graças ao trabalho voluntário de pelo menos mil
trabalhadores sem terra e simpatizantes. Sua missão é a de atender às necessidades
da formação de militantes de movimentos sociais e organizações que lutam por
um mundo mais justo.
Os recursos para a sua
construção foram obtidos com a venda de fotos de Sebastião Salgado e do livro Terra
(texto de José Saramago e música de Chico Buarque) e mediante a
contribuição de entidades da classe trabalhadora do Brasil, da América Latina
e de várias partes do mundo.
Sua manutenção e
funcionamento são assegurados por meio de financiamento de projetos nacionais e
internacionais por organizações institucionais e privadas, além da colaboração
individual voluntária.
É
uma escola que se “mistura” à vários outros movimentos sociais, movimentos
rurais. Um exemplo pode ser Movimento de
mulheres.
A
escola oferece um Núcleo de estudos latino-americanos (onde estuda-se, entre
outras coisas, o que está sendo construído em termos de movimentos sociais na
América Latina), há também um curso de especialização em estudos
latino-americanos, um Núcleo de Teoria Política (que trata, entre outras
coisas, da organização interna dos movimentos sociais, do pensamento de Marx, e
preocupa-se com a formação de quadros do MST). Todos esses cursos são
oferecidos apenas para pessoas ligadas ao MST e aos movimentos sociais. Mas,
aos sábados, há os Círculos de Debates, que são abertos à comunidade em geral e
que quiser, pode inscrever-se. Esses cursos acontecem graças à parcerias com
cerca de 30 universidades públicas e outros núcleos formais. Há também a
Associação dos amigos/parceiros da ENFF, onde José Saramago foi um dos
colaboradores. Citaram também Chico Buarque de Holanda, professores/as de
universidades, entre outros.
Todo
o trabalho na ENFF é voluntário e baseado na auto-sustentação. Tudo o que é
consumido é plantado ali mesmo. O espaço é bem grande e dispõe de alojamentos
para estudantes que vêm de toda a América Latina, a capacidade é para 200
pessoas. Há o prédio onde ficam alojados/as os/as professores/as, lavanderia
industrial, cozinha industrial, o espaço “Ciranda Saci-Pererê”, que é para as
crianças (no intuito de incentivar as mulheres que são mães a fazer os cursos).
É
um espaço de debates, de articulação, de formação sociológica, política e
filosófica. A proposta de Educação nasce das práticas dos movimentos sociais e
na constatação da falta de uma Educação efetiva para o campo. É impossível
pensar nos movimentos no campo sem pensar nos processos de Educação. São os
sujeitos do campo pensando os processos educacionais. Os cursos são baseados em
uma Pedagogia socialista, pedagogia de Paulo Freire (pedagogia do oprimido),
pedagogia do trabalho, cooperação agrícola e prática dos movimentos.
Problematizam
as questões: o que é a escola rural hoje? O que é a educação no campo? E
constatam que falta um sistema nacional de Educação que incorpore o campo.
Discutem então, assuntos como desenvolvimento agrícola, Reforma Agrária,
construção de uma educação do campo. É uma proposta que valoriza a cultura
camponesa, os conteúdos são contextualizados no jogo do poder, porque
compreende-se que no imaginário as sociedade há um preconceito com o homem e a
mulher do campo, e isso se dá em meio à essas relações. Os objetivos do MST são
a luta pela terra, a luta pela reforma agrária e contra as multinacionais e o
agronegócio.
Discute-se
também um projeto histórico de transformação social, de orientação socialista,
discute-se um programa nacional de educação na reforma agrária, mas reconhecem
que toda essa luta ainda é muito incipiente, mas a educação é a bandeira
central do movimento. Há na Escola Nacional Florestan Fernandes o acesso ao
conhecimento científico negado pelo sistema formal.
A
escola conta com a ajuda de professores como Luiz Carlos de Freitas, István
Mészáros, entre outros.
O ESPAÇO FÍSICO DA ENFF
A
escola está erguida sobre um terreno de 120 mil m2, com instalações de
alvenaria de tijolos fabricados pelos próprios trabalhadores. O projeto
arquitetônico, oferecido voluntariamente, teve como princípio causar o menor
dano ao meio ambiente.
Ao
todo, são três salas de aula, que comportam juntas até 200 pessoas, um
auditório, dois anfiteatros, uma biblioteca com 40 mil livros (obtidos por meio
de doação), com espaço de leitura e ilha de edição. Além disso, a escola conta
com quatro blocos de alojamento, refeitórios, lavanderia e casas destinadas aos
assessores e às famílias de trabalhadores que residem na escola. Sua horta,
pocilga e pomar produzem para consumo local. Para o lazer, oferece um campo de
futebol gramado e uma quadra multiuso coberta.
O
seu uso demanda a dedicação integral de 35 trabalhadores residentes no local,
de todas as áreas (administrativa, pedagógica, infraestrutura elétrica e
sanitária e outros). Todos os que frequentam os cursos se encarregam da
limpeza, dos cuidados com a horta e outros trabalhos de manutenção.
A
creche “Ciranda Infantil Saci Pererê” oferece um ambiente sadio e cuidadoso às
crianças, enquanto seus responsáveis, principalmente as mães, estudam e/ou trabalham.
O TRABALHO DE FORMAÇÃO DA ENFF
Nos
cinco primeiros anos de sua existência, passaram pela escola 16 mil militantes
dos movimentos sociais do campo e da cidade, de todos os Estados do Brasil e
de outros países da América Latina e da África.
A
escola tem o apoio de mais de 500 professores voluntários – do Brasil, da
América Latina e de outras regiões –, nas áreas de Filosofia Política, Teoria
do Conhecimento, Sociologia Rural, Economia Política da Agricultura, História
Social do Brasil, Conjuntura Internacional, Administração e Gestão Social,
Educação do Campo e Estudos Latino-americanos.
Além
disso, oferece cursos superiores e de especialização, em convênio com mais de
35 universidades (por exemplo, Direito e Comunicação no campo) e mestrado
sobre Questão Agrária, por meio de convênio com a UNESP e UNESCO.
A
ENFF também mantém convênio com mais de 15 escolas de formação em outros países
e com o Ministério da Educação de Cuba, com o objetivo de implementar no Brasil
o método de educação e alfabetização lá desenvolvido e praticado.
(parte
do texto foi retirado do site www.amigosenff.org.br
) Entrem e colaborem!
Edna Telles
Eu ajudei na construção da escola florestan fernandes !!!
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