domingo, 16 de setembro de 2012

Você conhece a Escola Nacional Florestan Fernandes?



Sábado, dia 15 de setembro foi um dia muito especial para a minha formação enquanto pessoa, para além da educadora, mas também para a educadora. Fui, juntamente com minhas colegas e meus colegas do Grupo de Estudos das escolas de Taipas, Jaraguá e Morro Grande, conhecer a Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema, SP.

Para quem não conhece, a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) é um centro nacional de Formação do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), recebe militantes de todo o movimento, inclusive também de movimentos sociais de toda a América Latina. É carinhosamente apelidada de “Universidade dos Trabalhadores”.

Situada em Guararema (a 70 km de São Paulo) e inau­gurada em 23 de janeiro de 2005, a ENFF foi constru­ída entre os anos de 2000 e 2005, graças ao trabalho voluntário de pelo menos mil trabalhadores sem terra e simpatizantes. Sua missão é a de atender às neces­sidades da formação de militantes de movimentos so­ciais e organizações que lutam por um mundo mais justo.
Os recursos para a sua construção foram obtidos com a venda de fotos de Sebastião Salgado e do livro Terra (texto de José Saramago e música de Chico Buarque) e mediante a contribuição de entidades da classe traba­lhadora do Brasil, da América Latina e de várias partes do mundo.
Sua manutenção e funcionamento são assegurados por meio de financiamento de projetos nacionais e internacionais por organizações institucionais e priva­das, além da colaboração individual voluntária.

É uma escola que se “mistura” à vários outros movimentos sociais, movimentos rurais. Um exemplo pode ser  Movimento de mulheres.

A escola oferece um Núcleo de estudos latino-americanos (onde estuda-se, entre outras coisas, o que está sendo construído em termos de movimentos sociais na América Latina), há também um curso de especialização em estudos latino-americanos, um Núcleo de Teoria Política (que trata, entre outras coisas, da organização interna dos movimentos sociais, do pensamento de Marx, e preocupa-se com a formação de quadros do MST). Todos esses cursos são oferecidos apenas para pessoas ligadas ao MST e aos movimentos sociais. Mas, aos sábados, há os Círculos de Debates, que são abertos à comunidade em geral e que quiser, pode inscrever-se. Esses cursos acontecem graças à parcerias com cerca de 30 universidades públicas e outros núcleos formais. Há também a Associação dos amigos/parceiros da ENFF, onde José Saramago foi um dos colaboradores. Citaram também Chico Buarque de Holanda, professores/as de universidades, entre outros.

Todo o trabalho na ENFF é voluntário e baseado na auto-sustentação. Tudo o que é consumido é plantado ali mesmo. O espaço é bem grande e dispõe de alojamentos para estudantes que vêm de toda a América Latina, a capacidade é para 200 pessoas. Há o prédio onde ficam alojados/as os/as professores/as, lavanderia industrial, cozinha industrial, o espaço “Ciranda Saci-Pererê”, que é para as crianças (no intuito de incentivar as mulheres que são mães a fazer os cursos).

É um espaço de debates, de articulação, de formação sociológica, política e filosófica. A proposta de Educação nasce das práticas dos movimentos sociais e na constatação da falta de uma Educação efetiva para o campo. É impossível pensar nos movimentos no campo sem pensar nos processos de Educação. São os sujeitos do campo pensando os processos educacionais. Os cursos são baseados em uma Pedagogia socialista, pedagogia de Paulo Freire (pedagogia do oprimido), pedagogia do trabalho, cooperação agrícola e prática dos movimentos.

Problematizam as questões: o que é a escola rural hoje? O que é a educação no campo? E constatam que falta um sistema nacional de Educação que incorpore o campo. Discutem então, assuntos como desenvolvimento agrícola, Reforma Agrária, construção de uma educação do campo. É uma proposta que valoriza a cultura camponesa, os conteúdos são contextualizados no jogo do poder, porque compreende-se que no imaginário as sociedade há um preconceito com o homem e a mulher do campo, e isso se dá em meio à essas relações. Os objetivos do MST são a luta pela terra, a luta pela reforma agrária e contra as multinacionais e o agronegócio.

Discute-se também um projeto histórico de transformação social, de orientação socialista, discute-se um programa nacional de educação na reforma agrária, mas reconhecem que toda essa luta ainda é muito incipiente, mas a educação é a bandeira central do movimento. Há na Escola Nacional Florestan Fernandes o acesso ao conhecimento científico negado pelo sistema formal.

A escola conta com a ajuda de professores como Luiz Carlos de Freitas, István Mészáros, entre outros.


O ESPAÇO FÍSICO DA ENFF

A escola está erguida sobre um terreno de 120 mil m2, com instalações de alvenaria de tijolos fabricados pelos próprios trabalhadores. O projeto arquitetônico, oferecido voluntariamente, teve como princípio causar o menor dano ao meio ambiente.
Ao todo, são três salas de aula, que comportam juntas até 200 pessoas, um auditório, dois anfiteatros, uma biblioteca com 40 mil livros (obtidos por meio de doação), com espaço de leitura e ilha de edição. Além disso, a escola conta com quatro blocos de alojamento, refeitórios, lavanderia e casas destinadas aos assessores e às famílias de trabalhadores que residem na escola. Sua horta, pocilga e pomar produzem para consumo local. Para o lazer, oferece um campo de futebol gramado e uma quadra multiuso coberta.
O seu uso demanda a dedicação integral de 35 tra­balhadores residentes no local, de todas as áreas (admi­nistrativa, pedagógica, infraestrutura elétrica e sanitária e outros). Todos os que frequentam os cursos se encar­regam da limpeza, dos cuidados com a horta e outros trabalhos de manutenção.
A creche “Ciranda Infantil Saci Pererê” oferece um ambiente sadio e cuidadoso às crianças, enquanto seus responsáveis, principalmente as mães, estudam e/ou tra­balham.


O TRABALHO DE FORMAÇÃO DA ENFF

Nos cinco primeiros anos de sua existência, passa­ram pela escola 16 mil militantes dos movimentos so­ciais do campo e da cidade, de todos os Estados do Brasil e de outros países da América Latina e da África.
A escola tem o apoio de mais de 500 professores voluntários – do Brasil, da América Latina e de ou­tras regiões –, nas áreas de Filosofia Política, Teoria do Conhecimento, Sociologia Rural, Economia Política da Agricultura, História Social do Brasil, Conjuntura Inter­nacional, Administração e Gestão Social, Educação do Campo e Estudos Latino-americanos.
Além disso, oferece cursos superiores e de especiali­zação, em convênio com mais de 35 universidades (por exemplo, Direito e Comunicação no campo) e mestra­do sobre Questão Agrária, por meio de convênio com a UNESP e UNESCO.
A ENFF também mantém convênio com mais de 15 escolas de formação em outros países e com o Ministério da Educação de Cuba, com o objetivo de implementar no Brasil o método de educação e alfabeti­zação lá desenvolvido e praticado.

(parte do texto foi retirado do site www.amigosenff.org.br ) Entrem e colaborem!

Edna Telles