quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O mundo intelectual e o Movimento feminista brasileiro perdeu uma de suas mais importantes referências: morre Heleieth Saffioti

Morreu no dia 13/12/2010 aos 76 anos, a socióloga, professora, pensadora e feminista Heleith Saffioti. A professora Heleieth é uma das mais importantes referências do Movimento Feminista brasileiro, professora de Filosofia há mais de 40 anos, iniciou a docência na UNESP de Araraquara. Buscou compreender os mecanismos de exploração das mulheres no capitalismo, sempre discutindo a relação entre racismo, patriarcado, capitalismo e a situação das mulheres na sociedade. Portanto, é referência nos estudos de gênero.
Publicou muitos livros, entre eles "O poder do macho" (1987), "Gênero, patriarcado e violência" (2004), "A mulher na sociedade de classes" (1970) e inúmeros e incontáveis artigos. Infelizmente não a conheci pessoalmente, mas compartilho de suas idéias e da grande perda que o Brasil teve. Porém, sua contribuição irá, com certeza, continuar a nos inspirar e servir como base para as pesquisas de gênero, feminismo e suas relações com o mundo capitalista. Abaixo, segue alguns links sobre a autora e seu falecimento:

Fundação Perseu Abramo

Araraquara.com

Secretaria Especial de políticas para as mulheres

Abaixo segue o link de um de seus textos:

Texto: Contribuições feministas para o estudo da violência de gênero

Obrigada pela relevante contribuição!
Edna Telles

FAMÍLIA E ESCOLA: UMA APROXIMAÇÃO POSSÍVEL E NECESSÁRIA

Olá a todas e a todos. Quero compartilhar neste espaço de discussão um pouco da experiência que tive na escola municipal de ensino fundamental onde trabalho em relação à aproximação entre família e escola. Sabe-se de antemão que este é assunto relevante no âmbito da Educação, muito discutido no meio acadêmico e que não há dúvida da necessidade das escolas em tentar sair do lugar comum de simplesmente realizar “reuniões de pais” para falar sobre rendimento e comportamento. Diga-se de passagem, esse último item, geralmente muito complicado do ponto de vista da exposição de pais e mães diante de seus pares e com isso, a vergonha, o desgosto e a posterior ausência da participação, que não raro, a culpa é colocada sempre na família (que é – segundo este ponto de vista –  “ausente” ou “desestruturada”). Mas mudar esse paradigma não é tarefa fácil, porém é possível e necessário. Acredito que onde trabalho estamos “caminhando” na busca por alternativas e por isso apresento aqui o que temos feito.
Em primeiro lugar, realizamos algumas parcerias. Desde 2004, desenvolvemos junto à PUC/SP com a equipe da professora doutora Heloísa Hszymanski e com a LABOR um projeto denominado “Projeto diálogo”, onde a idéia principal era construir um diálogo entre as várias Instituições da comunidade a qual a escola está inserida e que trabalham com as crianças da comunidade. No caso, a escola, as famílias, o centro de juventude, a creche, a biblioteca, o centro comunitário. Todas essas Intituições foram convidadas a participar. No final das contas, participaram mesmo a escola, as famílias, o centro de juventude e a creche Pianoro. No início, foi feito um grande diagnóstico nestas instituições para fazer um levantamento das prioridades de trabalho na escola do ponto de vista de cada uma delas. Antes, cada Instituição apresentou o que fazia, quais eram os objetivos institucionais, o trabalho que elas desenvolviam, a fim de que cada instituição se conhecesse melhor. Para o diagnóstico, cada segmento de cada Instituição conversou com seus pares e discutiu quais eram os problemas e as demandas principais sobre a escola. Entre os assuntos levantados estava a questão de como seria a escola ideal. Isso teve a duração de um ano. Em 2005, o resultado do diagnóstico resultou numa conclusão surpreendente: o que todo mundo queria, seja escola (professores/as, funcionários/as, alunos/as...), família, grupo de jovens creche – com relação à escola – era a mesma coisa: que todos/as os/as alunos/as fossem alfabetizados/as plenamente idealmente até o fim do segundo ano do ciclo I e, nos casos mais difíceis, até o fim de quarto ano do ciclo I. A partir daí, para 2006 foi traçado em plano de ação onde todas as atitudes foram tomadas a fim de que este grande objetivo fosse alcançado. Fizemos um trabalho com as famílias das crianças que apresentavam maiores dificuldades em se alfabetizar, nos reuníamos de 15 em 15 dias, para conversarmos a respeito de seus/suas filhos/as, como eram em casa, o que aprendiam com eles/as, qual a maneira de aprender de seus/suas filhos e filhas e como poderiam nos ajudar. Aprendemos muito com as famílias. Discutimos como desenvolvíamos o trabalho com essas crianças e as famílias compreenderam como a escola lidava com essas questões. Outra ação tomada foi o encontro quinzenal também com as educadoras destas crianças para discutirmos quais as melhores estratégias e atividades para atingir todas as crianças em suas diversidades de nível de aprendizagem. A LABOR ajudou muito nessa orientação pedagógica. Houve também o desenvolvimento de PPDs (Pequenos Projetos didáticos) por parte dos/das professores/as e orientados/as pela LABOR, desenvolvidos em sala de aula e apresentados ao final do ano. Uma outra ação a ser destacada foi a parceria com o grupo de jovens e a creche Pianoro. Nós tínhamos problemas em reunir as professoras das quartas séries para trabalhar a formação, devido ao horário que não coincidiam. Então, os jovens da comunidade Pianoro vinham até a escola e trabalhavam capoeira com todos/as os/as alunos/as. Nesse horário, eu me reunia com as professoras. Em contrapartida, eu e a Fran (coordenadoras pedagógicas) fazíamos a Formação das educadoras da creche. Foi uma troca muito rica. Aprendemos muito nesse processo que oficialmente durou de 2004 a 2008. Mas continua rendendo frutos até hoje. Aprendemos muito durante esse processo. Hoje, fazemos reuniões de pais, mães e responsáveis (família) formativas, para discutir assuntos diversos (a última foi sobre publicidade infantil), em horários compatíveis com os horários das famílias (a noite, aos sábados) e a participação foi grande. Mesmo a arrumação das salas nas reuniões entre família e mestras/es mudou: sempre em círculo, com café, um ambiente aconchegante... com senhas para atendimento individual, assim os pares não precisam saber da vida do filho/a do/da colega, a não ser que ele/a queira...rs.  A participação aumentou muito. Esse ano conseguimos a parceria da biblioteca da comunidade, desenvolvemos trabalho em conjunto e já vamos planejar 2011 junto com a biblioteca, inclusive já organizando um grupo de estudos, formação e oficinas com a comunidade para discutir bulliyng e respeito às diferenças. Vamos também planejar ações conjuntas com a creche e o grupo de jovens da Pianoro, todas as decisões referentes aos laptops do Projeto UCA (Um computador por aluno) são tomadas junto às famílias. O grupo está crescendo e quem ganha? Todos/as: escola, família, comunidade! Os resultados da escola melhoraram e aumentaram, tanto nas avaliações internas quanto nas externas. O número de crianças não alfabetizadas diminuiu muito. Acredito que estamos no caminho. Ainda faltam muitas conquistas, mas tudo é um processo. Já conseguimos mudanças significativas. O aprendizado: de que a aproximação entre escola e família é algo possível e necessário. Espero que tenha contribuído de alguma forma para que vocês pensem ações nas Instituições em que trabalham!

Abraço, Edna Telles.