quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O desafio da sala de aula




A grande preocupação da maioria das professoras e professores as/os quais eu convivo na escola é como lidar com o ensino e a aprendizagem considerando a enorme diversidade que existe de níveis de desenvolvimento dentro de uma mesma sala de aula. Quem lida com escola no dia a dia, sabe que isso é verdade. Imagine uma classe de quarta série, por exemplo, com 35 alunos/as. Desses, 5 não são alfabetizados, isso quer dizer que ainda não entenderam como funciona o sistema de escrita alfabético, escrevem o próprio nome e uns 2 desses 5 ainda não reconhecem todas as letras do alfabeto. 10 alunos/as são recém alfabetizados/as, ou seja, conseguem escrever uma lista de palavras, mas não conseguem produzir um texto. 10 produzem textos com dificuldades de estrutura textual, concordância verbal, entre outras questões e 10 conseguem produzir textos com coerência e poucas dificuldades, além das previstas para a série/ano. Agora imagine você trabalhando com uma classe dessas. Como faria para organizar o trabalho pedagógico? De que forma organizar os conteúdos a serem desenvolvidos? De que forma incluir todas e todos? Não dá para continuar trabalhando como se todos/as os/as alunos/as estivessem aprendendo a mesma coisa e do mesmo jeito. Quando se trabalha assim, o que acontece é que aqueles/as 10 últimos citados na descrição acima acompanham muito bem e o restante vai se arrastando. Não conseguem mais ver sentido no que lhes é apresentado. Não são convidados/as a falar sobre o que sabem. Raramente a questão é: o que eles/as já sabem? Isso sem contar nas crianças e jovens com necessidades educacionais especiais, nos inúmeros problemas sociais que aparecem inevitavelmente no dia a dia da escola. A própria configuração de uma classe assim, já demonstra as conseqüências de uma sociedade desigual e dos problemas existentes no sistema educacional. O que leva à configuração desse quadro são muitos e diferentes fatores e comentar um ou outro seria simplista, pois estão todos interligados. O problema é extremamente complexo e envolve desde os problemas sociais, os problemas dos sistemas educacionais, a baixa qualidade dos cursos de formação de docentes, a distância que existe entre o/a aluno/a real e o/a aluno/a que vive na cabeça das pessoas, o que consequentemente leva a planejamentos irreais e ineficientes, entre outros. Essas questões afligem o cotidiano da escola. Tentamos analisar a situação com diferentes olhares dentro do grupo que temos, estudando, refletindo, buscando soluções que vão ganhando vida nas ações do dia a dia. Mas isso já é assunto para o próximo texto. Até a próxima!

Obs. A fonte da imagem que aparece acima é:  http://www.diariodaclasse.com.br/photo/charge-sala-de-aula-depredada?context=featured (acesso em 29/02/2012)

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Ensino e aprendizagem: aproximações com a diversidade


"A escola nos interessa porque nela há uma contradição.
Uma contradição que se potencializa com a presença das classes
populares, as quais, como nunca antes, nela estiveram.
E se as camadas populares estão na escola, há conflito, há contradição.
E porque elas estão na escola, mais ainda que ela nos interessa.
Então, a escola, apesar de ter toda essa determinação, é também um
lugar contraditório. Contraditório no sentido de que há perspectivas, de
que há interesses diversos dentro dela e nós podemos escolher de que
lado estarmos."
LUIZ CARLOS DE FREITAS

Pensando aqui em todos os desafios que temos na escola em relação ao trabalho com a diversidade, e como dito em escritos anteriores, ela aparece em diversas vertentes, minhas reflexões voltaram-se para a questão do ensino e aprendizagem em sala de aula, ou na aula, como queiram. Pensar ensino e aprendizagem envolve uma série de outros assuntos e conceitos que estão interligados, como currículo, metodologia, gestão de tempo e espaços, formação, entre outros. Penso que, em meio a tudo isso, temos diante de nós os/as alunos/as: pessoas diferentes entre si, com costumes diferentes, culturas diferentes, valores diferentes e características diferentes, inclusive formas de aprender diferentes. Mas parece que esquece-se de tudo isso. Porque a escola ainda trabalha organizada da mesma forma que em seus primórdios, onde ela era para uns poucos da elite. Se as pessoas aprendem de formas diferentes (e isso daria teses e teses a respeito dessas formas), nada mais adequado do que trabalhar com formas diferentes de ensinar uma mesma classe. O que isso significa? Diversificar o trabalho com os conteúdos, tentando conhecer os/as alunos/as, sabendo de suas necessidades específicas, procurando descobrir suas potencialidades e trabalhando-as, de forma que possam mostrar essas potencialidades, trabalhando em grupos, em duplas, em situações aonde eles/as possam trabalhar colaborativamente e socializar o que eles/as aprenderam com os/as outros/as. O trabalho dentro da perspectiva de uma Educação Inclusiva é desenvolvido com base no conhecimento que tem sobre os/as alunos/as (quem são, suas características, preferências, dia-a-dia, necessidades, potencialidades, entre outros) e na gestão desse grupo, de forma que o que seja feito caminhe na direção da construção coletiva de conhecimento. Isso se faz muito em classes de alfabetização onde se trabalha com a diversidade das hipóteses de escrita das crianças: conhece-se como cada criança entende o funcionamento da escrita e, trabalha-se com o que denominamos de “agrupamentos produtivos”. Que é simplesmente colocar as crianças com níveis de entendimento diferentes, porém aproximados para desenvolverem atividades juntas, discutindo entre si, levantando hipóteses, confrontando o que pensam a partir de desafios propostos pelo/a professor/a, que lança questões e faz intervenções pontuais de acordo com a necessidade de cada grupo, trabalhando assim, com a zona de desenvolvimento proximal, como proposta por Vigotsky. Isso, creio eu, pode ser estendido para outras atividades nas diferentes disciplinas e projetos desenvolvidos. Porém, trabalhar dessa forma exige um olhar mais aprofundado sobre os/as alunos/as e disposição para a mudança. Mas é preciso mudar, pois a escola não tem dado conta dessa diversidade de aprendizagens. E você, como organiza seu trabalho em sala de aula? Consegue – de fato – incluir seus/suas alunos/as? Reflita. Faz parte do trabalho. Até a próxima.

Obs. A imagem exibida acima foi retirada do site: http://luciameyer.blogspot.com/2010/06/escala-cuisenaire.html (acesso em 26/02/2012)

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A diversidade e as famílias na escola: realidade ou ficção?


Um trabalho de qualidade que considere a diversidade na escola exige reflexão-ação-reflexão e pequenas atitudes cotidianas em diversas frentes. Os pontos a considerar são inúmeros. Um deles, por exemplo, é a visão construída de família que a escola tem. Por incrível que pareça, as pessoas ainda acabam trabalhando em uma lógica onde a família se restringe a pai, mãe e filhos/as. Ou ainda a idéia elitista de que as famílias são desestruturadas por que não se encaixam nesse modelo. A família desestruturada é sempre a do outro. Os problemas são sempre dos outros. Considerando a realidade em que vivemos, há que se considerar família algo bem ampliado, como um grupo de pessoas que convivem e cuidam umas das outras, independente de laço sanguíneo. Pai pode ser qualquer pessoa que cumpra o papel de pai, independente do sexo. Mãe da mesma forma. Há famílias onde tudo gira em torno da avó. Há famílias com casais de homens. Há famílias com casais de mulheres. Há pais e mães adotados por cumprirem uma função cuidadora. Há crianças que só têm pai, outras só tem mãe, outras só tem os avós, outras uma tia, outras talvez um/uma amigo/a. Dito assim, parece algo óbvio. Mas a escola considera essas características quando pensa em seu cotidiano? Que sentido tem “trabalhar” o dia das mães, o dia dos pais? Qual o significado que tem elaborar um cartão ou um desenho para uma criança cujo pai não existe? Cuja mãe não existe? Ou mesmo, se nessa relação há algo de ruim? Trabalhamos muitíssimas vezes com base em estereótipos, achando – por exemplo – que todas as mães são boas, que “mãe é mãe”, entre outros. Não é verdade que é sempre assim. Qual seria a saída? Trabalhar com base na realidade. Talvez não fazer uma festa para as mães ou festa para os pais, o mais adequado seria fazer uma “festa da família”, um cartão “pra quem cuida de mim”... Ainda em relação às famílias, reclama-se muito que geralmente as famílias não aparecem nas reuniões. Mas já pararam pra reparar nos horários das reuniões? 7h00 da manhã, 10h30 da manhã, 14h00... desconsiderando que muitos dos membros dessas famílias são trabalhadores que, nesses horários, não podem comparecer à escola. Que tal realizar reuniões à noite? Aos sábados? Que tal fazer uma pesquisa com as famílias pra saber quais os melhores dias e horários para as reuniões? É o espaço público trabalhando para o público. Difícil? Quem disse que seria fácil trabalhar com a diversidade? Mas uma escola que se propõe a tal intuito, precisa – no mínimo – fazer essa reflexão. Pois no discurso educacional (escrito ou falado) cabe tudo. Quero ver é trazer isso para a prática.

A reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação teoria/prática, sem a qual a teoria pode ir virando blábláblá e a prática, ativismo.” (Paulo Freire)

Referência Bibliográfica:
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo, Paz e Terra, 1996, pág. 24.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O grande desafio da Educação Formal: o trabalho com a diversidade




Creio que hoje um dos maiores desafios da Educação Formal é o trabalho com a diversidade. Tema tão falado, tão recorrente, tão “na boca de pedagogos e afins”, assunto de vanguarda. Não há discurso educacional que se preze que não fale de diversidade. Mas, o que é trabalhar com a diversidade? Com a diferença? É simplesmente negar as diferenças e colocar as pessoas no mesmo patamar? É dizer “que bom, o que seria do amarelo se não fosse o branco, somos todos diferentes” e negar a história e a luta de muitos grupos pra chegar aonde chegaram? E o que significa trabalhar com a diversidade na escola? É vislumbrar o acesso de todos e todas sem distinção? Mas, e acabado o problema do acesso, como incluir os que já estão na escola, mas não se encaixam em suas “forminhas” pautadas em modelos construídos a partir de estereótipos e de relações de poder que ditam regras, que ditam o que é normal?
Infelizmente (ou felizmente), a escola reflete todas as contradições e desigualdades presentes na sociedade, mas da mesma forma, reflete também uma transformação possível através dos conflitos, da luta, da mudança.
Mas como mudar, em uma escola engessada em modelos prontos, em modelos onde a identidade não problemática ainda é ser Homem, branco, classe média, cristão, adulto, heterossexual? De que forma entram as mulheres, os pobres, os ateus, as crianças, os idosos, os homossexuais, os que não se alfabetizam, os alunos com necessidades educacionais especiais?
Onde está a formação de qualidade para que os docentes dêem conta dessa diversidade toda?
Onde está a vontade política para que haja essa formação de qualidade?
Quem avalia a qualidade de uma escola?
O que é qualidade na Educação?
Para que haja uma escola que seja construída para a diversidade, é necessário que haja discussão, que haja a construção deu um Projeto Político Pedagógico que apresente uma concepção de Educação humanista, que veja a diferença, mas que esta não seja base para desigualdades.
Essa escola é possível sim. É necessário construir um projeto. Cuidar das pequenas coisas, das relações que se estabelecem na escola e de como elas se estabelecem, é necessário olhar seus alunos e alunas como pessoas que merecem respeito ao que são, independente de sua classe social, idade, orientação sexual, etnia, gênero, religião... independente de aprender facilmente ou de apresentar maiores dificuldades... para tanto, é necessário que o/a educador/a encare de frente seus próprios preconceitos e entenda que, independente de sua opinião a respeito do que é diferente dele/a, a escola é um espaço público, portanto, o espaço da diversidade. Como fazer isso? A partir de agora, falarei cada dia um pouquinho sobre ações que podem contribuir para o trabalho com a diversidade na escola. Até breve!

domingo, 12 de fevereiro de 2012

O início de um ano letivo...


Olá a todas e a todos que acompanham este blog ou que caíram nele por algum motivo nesse momento. Sou coordenadora pedagógica de uma Escola Pública Municipal da cidade de São Paulo e gostaria de compartilhar com vocês como foi o retorno dos/das docentes em mais um ano letivo. A equipe gestora bem antes do retorno dos/das professores/as, já começa a refletir sobre como preparar esse retorno para que dê base para pensar as ações na escola durante todo o ano, de que forma propor as reflexões, quais reflexões propor, enfim, para nós, esses três dias (apenas!) de reflexão são muito relevantes e, conseqüentemente, precisam ser minuciosamente preparados/das.

A equipe gestora pensou então que seria de extrema relevância iniciar discutindo o PPP (Projeto Político Pedagógico) da escola. É a linha mestra da Instituição, é o que delineia as ações, é aquilo que deve ser revisitado a cada dia. Nosso PPP constitui-se de objetivos, carta de princípios e reflexões que devem permear a construção do currículo. Pensou-se também que seria interessante voltarmos às questões colocadas pela própria equipe docente na Avaliação da Unidade Escolar no fim de ano anterior. A necessidade de pensarmos posturas docentes comuns em relação a questões práticas da escola também foi pauta das reuniões e, ainda, o planejamento dos primeiros dias de aula com os/as alunos/as.

Como é prática em nossas reuniões (dada a necessidade de incluirmos outras linguagens em nosso universo cultural), utilizamos também a literatura e a música como sensibilizadoras para as discussões propostas. Sendo assim, no primeiro dia ouvimos a música Isso é só o começo, de Lenine e foi lido o texto “Confraternização escolar”, de Castelo (escritor e compositor nascido no Piauí). Em seguida, passamos à apresentação dos/das professores/as e funcionários/as novos/as e então à discussão do PPP.

No segundo dia, a leitura feita foi o texto de Affonso Romano de Sant´Anna, “Desaprendendo a lição” e a música de Gabriel Pensador, Estudo errado. Após a apreciação da música e da leitura, passamos a discussão dos encaminhamentos para 2012 a partir de avaliação feita ao final do ano letivo de 2011. Entre os encaminhamentos (que daria discussão para outros textos) estão: a necessidade de grupos de trabalho interdisciplinares para acompanhamento discentes que apresentam dificuldades de aprendizagem ou outras. Dentro disso, pontuou-se a necessidade de estabelecimento de critérios para criação dos grupos de alunos/as; formação contínua de docentes com o tema da avaliação interna e externa; realização de reuniões de pais, mães e responsáveis no período noturno para as famílias que trabalham durante o dia e não podem comparecer outro horário; realização de reuniões formativas com as famílias para discutir temas de interesse; planejamento conjunto entre último ano do ciclo I (quarta-série) e primeiro ano do ciclo II (quinta série); desenvolvimento de pesquisa científica em todo o ensino fundamental, com defesa de TCC (Trabalho de conclusão de curso) na oitava série (nono ano do ensino fundamental de 09 anos); formação docente para uso das TIC´s (Tecnologias de informação e comunicação) para além do uso da Internet, explorando todos os recursos dos laptops educacionais “XO” do Projeto UCA (Um computador por aluno), entre outros.

No terceiro dia, ouvimos a música Livros, de Caetano Veloso e foi lido o texto “Texto para leitura”, de Fernando Bonassi (que fala sobre livros). Em seguida, discutimos as posturas docentes comuns em relação à atitudes com os/as alunos/as dentro e fora de sala de aula e também em relação à didática, pontuando, por exemplo, a necessidade de dinamizar as aulas, trabalhar mais interdisciplinarmente e em conexão com Professor Orientador de informática Educativa e Professor Orientador de Sala de Leitura, trabalhar de forma que o/a aluno/a seja  mais ativo/a, trabalhar com pesquisa científica, trabalhar com o desenvolvimento de Projetos (com proposta de formação docente pela coordenação, feita em horários coletivos), dar continuidade ao projeto de brinquedos e brincadeiras em todo o Ensino Fundamental e introduzir as novas tecnologias no desenvolvimento do trabalho. Após pontuarmos as questões explicitadas, a idéia era a dos/das professores/as pensarem na recepção dos/das alunos/as, com atenção especial às crianças de 06 anos que chegam para o primeiro ano e aos/as alunos/as da quinta série (sexto ano) que mudam de ciclo e precisam organizarem-se frente à tantas novidades.

Mais um ano letivo inicia-se e com ele, muito trabalho pela frente. Sempre pensando na construção da escola pública que queremos. Até a próxima!

Bibliografia citada:

CASTELO. Confraternização Escolar. In: Blônicas, Ed. Jaboticabas, SP, 2005.

SANT´ANNA, Affonso Romano de. Desaprendendo a lição. In: Coleção Melhores Crônicas, Global, SP, 2003.

BONASSI, Fernando. Textos para leitura. In: Dentro de um livro (autores diversos), Editora Casa da Palavra, RJ, 2005.