Contexto: o que apresento abaixo é um resumo do texto "distribuição de conteúdos e escrita colaborativa", escrito por Alejandro Piscitelli. O resumo foi preparado para a disciplina "Tecnologias digitais em espaços educativos", ministrada pela professora Lucilene Cury, que curso na ECA (Escola de Cominicações e Arte) da USP.
Alejandro Gustavo
Piscitelli formou-se em Filosofia na Universidade de Buenos Aires e obteve
mestrado em Ciência de Sistemas na Universidade de Louisville (EUA) e na
Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO). É consultor
organizacional em Internet e e-commerce. Atua como professor de oficina de
processamento de Dados, Telemática e Informática, pela UBA. Além disso,
ministra cursos de pós-graduação na UBA, FLACSO, Universidad de San Andrés, e
varias universidades Argentinas e Latino-americanas e espanholas. Ocupa importante
posição como consultor em programas e organizações em sua especialidade. É
ainda, co-editor da revista eletrônica Headline News Interlink. (resumo retirado de http://alejandro-piscitelli.webnode.com/ acesso em 02/11/2012)
Distribuição de conteúdos e escrita colaborativa
No livro “Internet, la imprenta del siglo XXI”, de
Alejandro Piscitelli, há um capítulo destinado à discussão da distribuição de conteúdos
e escrita colaborativa. Neste capítulo, o autor discute a produção e
distribuição de conteúdos na Internet, dando destaque aos blogs e as wikis,
traz um histórico sobre o desenvolvimento tecnológico desde o telégrafo,
passando pela imprensa, o rádio, a TV e mais
recentemente, a Internet. Apresenta uma visão crítica sobre a ideia de armazenamento ilimitado e interação com milhões de pessoas, tendo como
pano de fundo a questão da desigualdade econômica posta pelo capitalismo.
Reconhece que há democratização
e aumento da produção de conteúdos na web, mas ressalta a perda de qualidade do
conteúdo produzido como conseqüência do amadorismo massivo das publicações.
Ainda assim, destaca a importância da gratuidade da produção na rede,
enfatizando o potencial da produção democrática e colaborativa.
Piscitelli chama a atenção para a necessidade de análise das
relações existentes entre os novos suportes e linguagens que temos hoje e a
história de distribuição dos conteúdos que se vai gerando no processo dessas
transformações. Para isso, faz uma rápida imersão pela história, discorrendo
sobre as dificuldades de produção e distribuição dos manuscritos, pelo seu
altíssimo custo, em seguida destaca a importância do surgimento da imprensa
para a Europa e para todo o planeta, mas ressalta ainda o alto custo e por
isso, era tarefa para grandes empresas e mais tarde o surgimento do rádio e da
TV como novos mecanismos de irradiação de informações, porém, pelo alto custo
em obter equipamentos e licenças para manter a distribuição, era ainda tarefa
para poucos ricos e poderosos. Com a chegada da Internet, conquista-se o meio
de geração e distribuição de conteúdos mais econômico e acessível da história.
O autor destaca que os preços das máquinas caíram
significativamente de modo simultâneo à criação da Internet. A criação da
Internet é considerada como a maior revolução da história da comunicação.
Segundo Piscitelli, “agora qualquer pessoa podia publicar qualquer coisa e
qualquer outra podia lê-la, onde o horizonte da publicação parecia abrir-se
para o infinito e as barreiras que impediam uma circulação massiva das
mensagens uma distribuição altamente global dos conteúdos parecia haver
desaparecido como por arte de magia” (pág. 83). Porém, de forma crítica, o
autor relativiza essa democratização, pois não é verdade que todos tem acesso às
publicações de todos. Não se pode esquecer que a possibilidade de publicação
“um para muitos” depende de fatores totalmente externos como, por exemplo, a
largura da banda. Da mesma maneira, há um limite nas contas de distribuição, e
traz como exemplo situações em que o envio por e-mail de arquivos
como apresentações em PowerPoint não são
possíveis de se concretizar quando estes ultrapassam o tamanho em bytes
especificado pelo serviço de correio eletrônico. O autor diz que é claro que
existem espaços de armazenamento ilimitados, mas são cada vez mais caros, ou
seja, há poucas opções intermediárias. Nesse cenário, é impensável imaginar que
um usuário comum, de recursos médios, tenha a possibilidade de ser visitado por
centenas de milhares de pessoas diariamente. Reconhecer isso é dizer que não há
tanta liberdade como se pode parecer.
Apesar da
questão econômica, Piscitelli destaca que existem outras variações de produção
coletiva na rede que merecem consideração, como os blogs e as wikis. A wiki
(que significa rápido), é uma aplicação de informática colaborativa, que
permite que documentos web sejam criados coletivamente sem que exista uma
instância hierárquica de aprovação antes que seja publicado e isso de forma
simples e fácil, dá como exemplo a wikipédia. Essa mesma facilidade de uso
ocorre com os blogs (ou weblogs), onde as pessoas são conteúdistas, editores,
assistentes técnicos, designers e etc.
O que
ocorre, por outro lado, com os blogs e wikis é a diminuição do valor econômico das publicações e a
perda de qualidade do conteúdo, que decorre do amadorismo massivo das
publicações. “Sem dúvida, os artigos não
são os mesmos que podemos encontrar na Enciclopédia Britânica, porém, não
custam um centavo baixá-los na rede e o importante não está somente no valor
dos seus artigos, mas na magia que há em que a wiki-comunopédia funcione, some
talentos e qualidade, e sobretudo cresça, se difunda e seja ambiciosa e
efetiva” (pág.88).
Nas palavras de Piscitelli:
“Num mundo hierárquico, onde quase tudo
está organizado não tanto pelos que sabem, mas pelos que podem e querem; onde a
brecha entre o saber e o fazer multiplica-se diariamente, gerando dificuldades
e frustrações a granel, o exemplo das wikis como a wikipédia, mostra que há
outra forma de fazer as coisas e que, por sorte, podemos participar dessas
construções complementares” (pág. 88-89)
Para finalizar seu texto, Piscitelli
diz:
“A conclusão previsível de tudo isso é que o
maior erro que se pode haver é imaginar cobrar pelo que deve ser gratuito,
ainda que curiosamente essa seja a base da mercantilização e o motor oculto do
capitalismo. Blogar é hoje um hobby e um
presente divino por obra e graça da santa tecnologia, não são o paraíso dos
milhões, mas sim uma fonte inesgotável de mesas virtuais e pequenos grupos que
seriam impossíveis de fomentar, manter ou gerar no mundo real. Nesse sentido, a
massificação que a Internet gera é algo que tem um valor incalculável. Porque o
mais interessante e reconfortante dos blogs é que geram conversas que são
importante para nós, conversas em que ser parte do jogo é uma recompensa que
nenhuma moeda poderia substituir jamais” (pág. 91)
Assim, Piscitelli nos faz pensar
sobre as complexas relações existentes entre o surgimento da Internet e as
inúmeras possibilidades que ela nos traz em sua versão 2.0, não nos deixando
esquecer da relevância em pensar no seu contexto de surgimento, a globalização
e o capitalismo e as implicações deste contexto nesse novo universo da produção
e distribuição de conteúdos. Sendo assim, ainda estamos num processo de
construção de um “mundo sem fronteiras”, onde a questão central deve ser a
busca pelo acesso democrático e irrestrito a tudo o que essas ferramentas
digitais e colaborativas põem nos oferecer.
Bibliografia
PISCITELLI, A.
Distribuición de contenidos y escritura colaborativa. In: Internet, la
imprenta del siglo XXI. Barcelona: Editorial Gedsa, 2005.
Para saber mais sobre Alejandro Piscitelli, acessem o blog colaborativo que a turma da disciplina da ECA citada acima produziu: http://alejandro-piscitelli.webnode.com/