sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Distribuição de conteúdos e escrita colaborativa (Alejandro Piscitelli)

Contexto: o que apresento abaixo é um resumo do texto "distribuição de conteúdos e escrita colaborativa", escrito por Alejandro Piscitelli. O resumo foi preparado para a disciplina "Tecnologias digitais em espaços educativos", ministrada pela professora Lucilene Cury, que curso na ECA (Escola de Cominicações e Arte) da USP.


Alejandro Gustavo Piscitelli formou-se em Filosofia na Universidade de Buenos Aires e obteve mestrado em Ciência de Sistemas na Universidade de Louisville (EUA) e na Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais  (FLACSO). É consultor organizacional em Internet e e-commerce. Atua como professor de oficina de processamento de Dados, Telemática e Informática, pela UBA. Além disso, ministra cursos de pós-graduação na UBA, FLACSO, Universidad de San Andrés, e varias universidades Argentinas e Latino-americanas e espanholas. Ocupa importante posição como consultor em programas e organizações em sua especialidade. É ainda, co-editor da revista eletrônica Headline News Interlink. (resumo retirado de http://alejandro-piscitelli.webnode.com/  acesso em 02/11/2012)

Distribuição de conteúdos e escrita colaborativa

No livro “Internet, la imprenta del siglo XXI”, de Alejandro Piscitelli, há um capítulo destinado à discussão da distribuição de conteúdos e escrita colaborativa. Neste capítulo, o autor discute a produção e distribuição de conteúdos na Internet, dando destaque aos blogs e as wikis, traz um histórico sobre o desenvolvimento tecnológico desde o telégrafo, passando pela imprensa, o rádio, a  TV e mais recentemente, a Internet. Apresenta uma visão crítica sobre a ideia de armazenamento ilimitado e interação com milhões de pessoas, tendo como pano de fundo a questão da desigualdade econômica posta pelo capitalismo. Reconhece que há democratização e aumento da produção de conteúdos na web, mas ressalta a perda de qualidade do conteúdo produzido como conseqüência do amadorismo massivo das publicações. Ainda assim, destaca a importância da gratuidade da produção na rede, enfatizando o potencial da produção democrática e colaborativa.
Piscitelli chama a atenção para a necessidade de análise das relações existentes entre os novos suportes e linguagens que temos hoje e a história de distribuição dos conteúdos que se vai gerando no processo dessas transformações. Para isso, faz uma rápida imersão pela história, discorrendo sobre as dificuldades de produção e distribuição dos manuscritos, pelo seu altíssimo custo, em seguida destaca a importância do surgimento da imprensa para a Europa e para todo o planeta, mas ressalta ainda o alto custo e por isso, era tarefa para grandes empresas e mais tarde o surgimento do rádio e da TV como novos mecanismos de irradiação de informações, porém, pelo alto custo em obter equipamentos e licenças para manter a distribuição, era ainda tarefa para poucos ricos e poderosos. Com a chegada da Internet, conquista-se o meio de geração e distribuição de conteúdos mais econômico e acessível da história.
O autor destaca que os preços das máquinas caíram significativamente de modo simultâneo à criação da Internet. A criação da Internet é considerada como a maior revolução da história da comunicação. Segundo Piscitelli, “agora qualquer pessoa podia publicar qualquer coisa e qualquer outra podia lê-la, onde o horizonte da publicação parecia abrir-se para o infinito e as barreiras que impediam uma circulação massiva das mensagens uma distribuição altamente global dos conteúdos parecia haver desaparecido como por arte de magia” (pág. 83). Porém, de forma crítica, o autor relativiza essa democratização, pois não é verdade que todos tem acesso às publicações de todos. Não se pode esquecer que a possibilidade de publicação “um para muitos” depende de fatores totalmente externos como, por exemplo, a largura da banda. Da mesma maneira, há um limite nas contas de distribuição, e traz como exemplo situações em que o envio por e-mail de arquivos como apresentações em PowerPoint  não são possíveis de se concretizar quando estes ultrapassam o tamanho em bytes especificado pelo serviço de correio eletrônico. O autor diz que é claro que existem espaços de armazenamento ilimitados, mas são cada vez mais caros, ou seja, há poucas opções intermediárias. Nesse cenário, é impensável imaginar que um usuário comum, de recursos médios, tenha a possibilidade de ser visitado por centenas de milhares de pessoas diariamente. Reconhecer isso é dizer que não há tanta liberdade como se pode parecer.
Apesar da questão econômica, Piscitelli destaca que existem outras variações de produção coletiva na rede que merecem consideração, como os blogs e as wikis. A wiki (que significa rápido), é uma aplicação de informática colaborativa, que permite que documentos web sejam criados coletivamente sem que exista uma instância hierárquica de aprovação antes que seja publicado e isso de forma simples e fácil, dá como exemplo a wikipédia. Essa mesma facilidade de uso ocorre com os blogs (ou weblogs), onde as pessoas são conteúdistas, editores, assistentes técnicos, designers e etc.
O que ocorre, por outro lado, com os blogs e wikis é a diminuição do valor econômico das publicações e a perda de qualidade do conteúdo, que decorre do amadorismo massivo das publicações.  “Sem dúvida, os artigos não são os mesmos que podemos encontrar na Enciclopédia Britânica, porém, não custam um centavo baixá-los na rede e o importante não está somente no valor dos seus artigos, mas na magia que há em que a wiki-comunopédia funcione, some talentos e qualidade, e sobretudo cresça, se difunda e seja ambiciosa e efetiva” (pág.88).

Nas palavras de Piscitelli:
“Num mundo hierárquico, onde quase tudo está organizado não tanto pelos que sabem, mas pelos que podem e querem; onde a brecha entre o saber e o fazer multiplica-se diariamente, gerando dificuldades e frustrações a granel, o exemplo das wikis como a wikipédia, mostra que há outra forma de fazer as coisas e que, por sorte, podemos participar dessas construções complementares” (pág. 88-89)

Para finalizar seu texto, Piscitelli diz:
 “A conclusão previsível de tudo isso é que o maior erro que se pode haver é imaginar cobrar pelo que deve ser gratuito, ainda que curiosamente essa seja a base da mercantilização e o motor oculto do capitalismo.  Blogar é hoje um hobby e um presente divino por obra e graça da santa tecnologia, não são o paraíso dos milhões, mas sim uma fonte inesgotável de mesas virtuais e pequenos grupos que seriam impossíveis de fomentar, manter ou gerar no mundo real. Nesse sentido, a massificação que a Internet gera é algo que tem um valor incalculável. Porque o mais interessante e reconfortante dos blogs é que geram conversas que são importante para nós, conversas em que ser parte do jogo é uma recompensa que nenhuma moeda poderia substituir jamais” (pág. 91)

Assim, Piscitelli nos faz pensar sobre as complexas relações existentes entre o surgimento da Internet e as inúmeras possibilidades que ela nos traz em sua versão 2.0, não nos deixando esquecer da relevância em pensar no seu contexto de surgimento, a globalização e o capitalismo e as implicações deste contexto nesse novo universo da produção e distribuição de conteúdos. Sendo assim, ainda estamos num processo de construção de um “mundo sem fronteiras”, onde a questão central deve ser a busca pelo acesso democrático e irrestrito a tudo o que essas ferramentas digitais e colaborativas põem nos oferecer.

Bibliografia
PISCITELLI, A. Distribuición de contenidos y escritura colaborativa. In: Internet, la imprenta del siglo XXI. Barcelona: Editorial Gedsa, 2005.

Para saber mais sobre Alejandro Piscitelli, acessem o blog colaborativo que a turma da disciplina da ECA citada acima produziu:  http://alejandro-piscitelli.webnode.com/