Um olhar crítico
(Texto de Maria Teresa
Quiroz Velasco)
Alessandro
Baricco empreende uma profunda análise da leitura, das novas linguagens e de um
mundo bárbaro que nos assola e põe em risco a humanidade. Sustenta que hoje em
dia a leitura está em crise e que quem compra livros não é, na realidade,
leitor, mas personagens presos ao mercado. Observa que um número muito
significativo de livros vendidos provém de filmes, novelas escritas por
personagens da TV ou gente famosa, temas conhecidos ou auto-ajuda.
Baricco
é muito crítico com a web porque consagra novos valores frente ao conhecimento
e a informação. A qualidade tem sido redefinida, assim como a ideia do que é
importante e o que não é. O significado mudou da
seqüência do conhecimento, para seu movimento. Anteriormente, completa Baricco, a compreensão e o
conhecimento estavam na profundidade dos assuntos, em sua sequencia. Agora se
encontra em sua trajetória, que não está na profundidade e sim na superfície. “Navegar
na rede. Nunca foram mais precisos os nomes. Superficie em vez de profundidade,
viagem em vez de imersão, jogo em vez de sofrimento” (BARICCO, 2008: 111).
Baricco assinala que se “surfa” na crista da onda, a qual o espetáculo
predomina.
O autor alerta sobre a
necessidade de se empreender uma política cultural que preserve a inteligência
do azar do mercado puro e simples, porque a formação coletiva passa hoje em dia
pela escola e pela televisão.
Podem as tecnologias digitais
contribuir para um melhor desenvolvimento da educação?
A pergunta e sua resposta são
fundamentais ao longo de todo esse texto no qual o esforço central está em
materializar o uso de tecnologias digitais com fins educativos. Jesús
Martín-Barbero y Germán Rey sustentam que hoje a maioria das pessoas não se
incorporam à modernidade pelos livros e sim pelos gêneros e narrativas,
linguagens e saberes da indústria, pela experiência audiovisual e pela internet.
Se produzem profundas transformações no cotidiano, especialmente entre as novas
gerações, que consomem a pluralidade de textos e escritos que circulam hoje. Também
se constroem complexas relações entre a oralidade que perdura como experiência
cultural primária da maioria e a visualidade tecnológica (JESÚS MARTÍN-BARBERO
Y GERMAN REY, 1999).
Vivemos desconcertantes paradoxos
na América Latina: por um lado somos testemunhas da abundância comunicativa, a
ampla disponibilidade de informação e a explosão de imagens e de outro, uma
deterioração da educação formal. Urge a necessidade de mudarmos de um modelo pedagógico
pautado na transmissão de conhecimentos para um outro que se organize e se fundamente na interatividade. Quais são as
razões para essa mudança, de onde surgem e que exigências expressa? Se trata de
caminhar de um modelo linear e centralizado para outro descentralizado e
plural, coerente com as mudanças ocorridas na sociedade desde o fim do século
XX, porém, em grande medida pelas exigências comunicacionais e cognitivas que
nos sugerem os jovens. Manter o interesse e a atenção desses jovens é complexo
e difícil. Trata-se de uma geração para a qual os modelos lineares e
argumentativos tradicionais não fazem sentido. Os mais jovens se desenvolvem
melhor que seus mestres numa variedade de conexões, relacionando a informação
com a comunicação, sem separá-las, diferente do que os adultos fazem. Os mais
jovens têm competencias para modificar conteúdos, para produzí-los e são
espertos em compartilhá-los.
Por esses motivos, as decisões
políticas no setor educacional e as políticas de gestão no interior das escolas
são insuficientes porque não atendem ao sentido das mudanças relacionadas com a
função de educar, limitando-se a investir em máquinas e tecnologias
informáticas. O problema não pode reduzir-se a treinar professores para majenar
computadores ou navegar na internet. Se trata de trabalhar e preparar os
docentes para que compreendam o sentido da formação de seus estudantes como
futuros cidadãos, como sujeitos autônomos com capacidades para discernir,
argumentar e criar.
O brasileiro Marco Silva define o
conceito de interatividade e manifesta:
“(...) a
interatividade é um conceito da comunicação e não da informática. De fato, a
interatividade é uma qualidade semiótica intrínseca das tecnologias
informáticas, as quais permitem ao usuário operar com recursos de conexão e de
navegação em um campo de referências multidirecionadas, permitindo entrar,
manipular e modificar. O termo pode ser empregado para significar a comunicação
entre interlocutores humanos e entre humanos e máquinas. Dado que o professor
deve ser um comunicador, pode sintonizar a nova comunicação com a aula...”
(p.16)
Nesse sentido, a educação
interativa supõe, o que há muitos anos atrás Paulo Freire chamou de “educação
dialógica”, não do professor para o aluno, mas do professor com o aluno. Como o
nome indica, são relações de diálogo horizontais, em que o mestre deixa de
“controlar” o conhecimento e acompanha os processos de exploração e reflexão. É
claro que uma aula não será interativa porque tem equipamentos tecnológicos
digitais, se nela permanecer a pedagogia da transmissão.
Texto
base: VELASCO, Maria Teresa Quiroz.
Tecnologias digitais: para a educação e a comunicação. In: CURY, Lucilene
(org). Tecnologias digitais nas interfaces da comunicação/educação: desafios
e perspectivas. 1 ed. – Curitiba, PR: CRV, 2012.
Referências:
BARICCO, A. Los bárbaros. Ensayo sobre la
mutación. Barcelona: Anagrama. 2008.
FREIRE, Paulo. La importancia de leer y el
proceso de liberación. México: siglo XXI.1984.
MARTÍN-BARBERO, Jesús y Germán Rey. Los
ejercicios del ver. Hegemonía audiovisual y ficción televisiva. Barcelona,
Gedisa. 1999.
SILVA, Marco. Educación interactiva. Enseñanza
y aprendizaje presencial y online. Barcelona: Gedisa. 2005.
Fonte da imagem: http://tecnologianaliteratura.blogspot.com.br/ (acesso em 08/09/2012, às 01h21)