terça-feira, 22 de outubro de 2013

O Projeto Político Pedagógico da escola: algumas considerações (Parte I)

O que é Projeto Político Pedagógico da escola? Alguma vez você já se deparou com essa pergunta? Como você a responderia? Aprendeu na Faculdade de Pedagogia? Você conhece o Projeto Político Pedagógico de sua escola? Participou de sua elaboração?

O Projeto Político Pedagógico da escola, mais conhecido como PPP, pode ser denominado de Projeto Pedagógico, Projeto da escola, entre outras coisas. Qualquer que seja a denominação, está implícita na ideia de projeto a ação de planejar, buscar um rumo, uma direção de forma intencional.

A dimensão política traduz pensamento e ação: exprime uma visão de mundo, de sociedade, de educação, de profissional e de aluno/a que se deseja. Tomar decisões, fazer escolhas e executar ações são atos políticos. Dependendo da concepção de Educação e Sociedade que se tem, é que se tomam decisões na escola. Toda decisão tem por trás uma concepção, não existe esse “papo” de que escola é neutra. Portanto, um Projeto Pedagógico é sempre Político, mesmo que a palavra não apareça.

Fala-se em dimensão pedagógica porque nela está a possibilidade de tornar real a intenção da escola, ação para cumprimento de propósitos que passam pela formação do ser humano participativo, compromissado, crítico e criativo. Que ser humano queremos formar é a primeira questão a se fazer.

A elaboração de um Projeto Político Pedagógico envolve a busca de autoconhecimento e de conhecimento da realidade e seu contexto. Planejá-lo requer encontrar no coletivo da escola respostas a uma série de questionamentos: Para quê estamos aqui? O quê queremos alcançar? O que desejamos para nossos/as alunos/as? Quais ações são necessárias para alcançar aquilo que queremos? Quando? Como? Com o quê? Por quê? Com quem?

A construção do Projeto político pedagógico é a forma objetiva da escola dar sentido ao seu saber fazer enquanto instituição escolar: é a realização concreta de seus sonhos e como já dizia Moacir Gadotti, “não devemos renunciar ao nosso sonho de grande mudança, não devemos jogar no lixo nossa utopia revolucionária”.

E falando em Moacir Gadotti, em seu texto “O projeto político pedagógico da escola na perspectiva de uma educação para a cidadania”, o autor coloca uma série de questões importantes para pensarmos a elaboração do projeto da escola. Entre elas a de que a construção do Projeto da escola representa um desafio para todos/as os/as educadores/as. Isto porque não se constrói um projeto sozinho, projeto da escola deve ser coletivo, envolve conhecimento da comunidade, do contexto, dos/das alunos/as, da sociedade contemporânea, clareza da função da escola no mundo contemporâneo, e um grupo comprometido. Uma gestão escolar comprometida com os/as filhos/as de trabalhadores/as que estão na escola, comprometida com a construção de um mundo melhor.

Tenho conversado com muitos/as professores/as em diversas formações que realizo e fico muito preocupada quando ouço da maioria deles/as que não conhecem o Projeto da escola, que sabem que é um papel quase “sacralizado” guardado na direção ou coordenação, que não participaram de sua elaboração... isso também revela uma concepção de Educação. Bem autoritária, por sinal. Projeto Pedagógico da escola não é aquela pasta organizada com tabelas de funcionários e histórico da escola...estou falando de coisa bem diferente. Claro que sabemos que há a parte burocrática, as escolas devem entregar um “Plano Escolar”, o que deve constar nele varia de secretaria de educação pra secretaria de educação, mas ele não é um Projeto Político Pedagógico.

Projeto Político Pedagógico tem vida. Acontece, é flexível de acordo com as necessidades, muda às vezes. Outras não. Outras vezes muda algumas coisas apenas. Mas ele representa uma reflexão sobre a prática com olhos no futuro. Visando o sucesso dos/das alunos/as e da comunidade como um todo. Precisa de gente que goste de Educação. Como diria Hanna Arendt, de gente que ame o mundo de tal forma que se responsabilize por ele, o trazendo para as novas gerações, que, ao deparar-se com ele, também traz o novo, cria.

Outro fator relevante na construção de um PPP é o fato de que, segundo, Gadotti “cada escola é resultado de um processo de desenvolvimento de suas próprias contradições”, ou seja, não há dois Projetos iguais, não há receitas, cada escola elabora seu projeto e o coloca em prática. A pluralidade de projetos pedagógicos faz parte da história da educação da nossa época. Por isso não deve existir um padrão único que oriente a escolha dos projetos de nossas escolas. O projeto da escola depende sobretudo da ousadia dos seus agentes, da ousadia de cada escola em assumir-se como tal, partindo da cara que tem, com o seu cotidiano e seu tempo-espaço, assumindo erros e os entendendo como parte do processo, construindo junto, refletindo sobre o currículo, as ações, as aulas...

Para finalizar essa primeira parte de nossa discussão sobre PPP, peço à vocês que respondam às perguntas: a escola onde trabalho tem um Projeto Político pedagógico? Eu o conheço? As minhas ações como educador/a refletem o que se quer alcançar a partir dele? Eu participei de sua elaboração? Conto com as respostas de vocês aqui nos comentários. Volto em breve para conversar com vocês a respeito e contar uma experiência muito rica que tivemos na elaboração de um PPP em uma escola municipal de São Paulo.

Até breve!
Edna Telles