domingo, 21 de outubro de 2012

Ada, ada, ada, vem aí a Ernanada!!!

A frase acima “vem aí a Ernadada” foi lida por todos os/as alunos/as da EMEF Ernani Silva Bruno (escola onde sou coordenadora pedagógica), em um banner afixado no pátio da escola dias antes da semana da criança. Para quem não sabe, a “Ernanada” é o nome carinhoso (que vem de Ernani, nome da escola) para uma “competição saudável” que acontece na escola durante a semana da criança. Mas por trás da competição, há vários outros objetivos, todos relacionados ao Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola.

O primeiro deles tem a ver com a convivência, protagonismo e trabalho cooperativo entre professores e alunos. Durante uma semana, crianças de 06 a 10 anos (primeiro ao quarto ano do ciclo I) e adolescentes de 11 a 14 anos (quinto ao oitavo ano do ciclo II) trabalham juntas/os em suas equipes. Há toda uma preparação para que isso ocorra. Antes, é necessário distribuir as crianças e adolescentes nas 06 equipes (6 no ciclo I e 6 no ciclo II). Por exemplo, se a professora tem uma classe de primeira série, ela precisa dividir o número de crianças em 6 grupos diferentes. Com todas e todos fazendo isso, têm-se grupos multi-idades. Quando todos os grupos estão formados, todos os dias eles se reúnem para desenvolver diversas atividades relacionadas às competições.

A Ernanada tem um tema específico. Esse ano o tema foi o “centenário de Luiz Gonzaga e cultura nordestina”. Cada equipe tem uma cor e um tema. A cor é sorteada e o tema também. Por exemplo, no ciclo I tínhamos as equipes verde, vermelha, amarela, azul, laranja e marrom. Cada equipe desenvolveu um tema específico dentro do tema geral: comida típica nordestina, cordel, causos, festas populares, música, entre outros. Então funciona assim: cada equipe precisa pesquisar sobre o assunto sorteado e preparar uma apresentação do tema para todas as outras equipes. Além disso, cada equipe precisa criar um grito de guerra e uma bandeira.

Além dessas atividades, as equipes precisam se preparar para as outras provas:
  • Quem sabe, sabe (aonde os alunos irão responder à questões relacionadas ao tema do evento, no caso, o centenário de Luíz Gonzaga)
  • Quem sabe, canta (nós colocamos uma música nordestina e, quando a música parar, a equipe tem que continuar cantando)
  • Cante você (cada equipe devia preparar a apresentação de um repente)
  • Caça-tranqueira (cada equipe precisa unir durante a semana objetos que tem a ver com o tema, pois serão pedidos no dia da competição. Ex. Chapéu de nordestino, fuxico, etc.)
  • Dançar forró (cada equipe escolhe um casal para dançar forró e representá-la)
  • Dançar frevo (cada equipe escolhe um casal para dançar frevo e representá-la)
  • Vestir-se tipicamente para desfilar em um dos dias (esse dia é avisado com antecedência)

No ano anterior, o tema foi “escritores/as”: cada equipe estudava a biografia e obra de um/uma escritor/a e tinha que apresentar e as provas variavam bastante: tivemos concurso da melhor foto feita com o laptop educacional do projeto UCA (Um computador por aluno), entre outras. As provas também podem variar entre ciclo I e ciclo II, por exemplo: os dois ciclos tinham a prova “quem sabe, sabe...”, mas as perguntas eram diferentes.

As competições acontecem durante três dias seguidos e, no último dia, há festa de encerramento com música típica, cachorro quente e bolo para o dia das crianças. É quase que uma “missão impossível” descrever o envolvimento dos professores e dos alunos. As atividades acontecem na quadra coberta da escola, e parece um arco-íris, já que as equipes também pontuam pelo número de pessoas vestidas pela cor da equipe. Pom-pons coloridos também são bem-vindos. Há uma equipe julgadora composta por funcionários da escola e um “animador/a” que geralmente é o diretor e as coordenadoras pedagógicas.

As equipes vencedoras de 2012, uma do ciclo I e outra do ciclo II ganharam como prêmio um dia em uma chácara, com piscina, almoço e diversas atividades recreativas.

A semana que antecede à Ernanada, é sempre muito corrida e exige um trabalho coletivo imenso: professores e funcionários se ajudam para que dê tudo certo. Para as crianças e jovens é um aprendizado enorme: eles pesquisam, vão atrás de materiais diversos, precisam decidir coletivamente como apresentarão o seu tema, precisam criar o grito de guerra, criar a bandeira, estudar, preparar a apresentação, e isso tudo em grupo: ou seja, precisam dividir as tarefas, ajudarem-se, delegar atividades, considerar o que cada um tem mais facilidade, lidar com a diferença de idade...olha quanto aprendizado! E as professoras e os professores precisam trabalhar em grupos também...descobrem novas parcerias e se envolvem tanto...que as vezes é preciso acalmar os ânimos...rsrs

Mas no fim, todos/as ganham e as crianças e adolescentes se divertem a aprendem muito! Afinal, quem foi que disse eles/as só aprendem dentro da sala de aula, com a mesma idade, todos fazendo a mesma coisa ao mesmo tempo?

Agora todos/as sabem quem foi Luiz Gonzaga, o que ele representa, onde nasceu, entre outras coisas...cultura na escola!

E você, o que achou?

Por Edna Telles

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Escola para a diversidade: faz sentido para você?



A escola face ao contemporâneo é a escola da diversidade. Pelo menos é isso que qualquer discurso educacional que se pretenda sério explicita. Ouve-se falar em diversidade na escola em discussões sobre projetos políticos pedagógicos, nas orientações gerais das expectativas de aprendizagem, nas partes teóricas acopladas aos livros didáticos (que vamos e venhamos, quase ninguém as lê), nos congressos educacionais, nas reuniões em diretorias de ensino, no senso comum em geral. Mas, o que é a diversidade? O que é trabalhar com a diversidade? Sabemos lidar com a diversidade?
Em primeiro lugar, a “diversidade” são os outros. São aqueles e aquelas que não se encaixam nos modelos considerados “normais”. Geralmente esses modelos são construídos pautados em relações de poder, numa visão elitista e androcêntrica do mundo (indivíduo do sexo masculino como centro de todas as coisas). A diversidade são os/as negros/as, os índios/as, os/as pobres, as mulheres, os/as homossexuais, os/as assexuais, os/as idosos/as, e pasmem! Também muitas vezes, as crianças. E lidar com a diversidade é lidar, em primeiro lugar, com nossos próprios preconceitos.
Falar de diversidade na escola pública é falar de um compromisso com o público, com o diverso e, portanto, não com valores próprios, mas com valores comuns. A escola pública é para todas e todos. É por meio da educação escolar que deve-se construir uma cultura cidadã, onde todos/as se respeitem e tenham as mesmas oportunidades e condições de trabalho e de aprendizagem. Não é tarefa fácil, ainda mais nos dias de hoje que, para além das questões da diversidade, ainda temos que pensar nas questões do acesso às tecnologias digitais e ao mundo que elas são acesso.
Os desafios da profissão docente hoje são imensos. Um/uma professor/a precisa aprender a lidar com a tecnologia e, ao mesmo tempo, superar seus próprios preconceitos e trabalhar para a diversidade.
Uma auto-avaliação deve ser feita por todas e todos que estão nas salas de aula: o que é necessário ensinar nos dias de hoje para que meus alunos e minhas alunas tenham acesso ao mundo em que vivem de forma atuante e crítica? Estou ensinando o que é necessário? Estou ensinando da melhor forma? Será que todos/as os/as alunos/as aprendem da mesma forma, o mesmo conteúdo e ao mesmo tempo? Aqui já entramos nas questões que envolvem além de todas as diversidades explicitadas anteriormente, a diversidade de ritmos de aprendizagem.
Qual é o sentido da escola para suas alunas e seus alunos? Vocês já se perguntaram isso? Já perguntaram para eles/elas? E qual é o sentido da escola hoje? O que você faz, tem sentido para você? Porque estou perguntando isso agora? Porque para que desenvolvamos um olhar “para o/a outro/a”, precisamos lançar também um olhar para nós mesmos. Pensar sobre se faz sentido para nós o que fazemos, nos ajuda a buscar caminhos. Tem gente que vai para a escola como se fosse para um velório. Já sente que não há mais o que fazer. Então, que sentido tem isso? Que interesse pelo saber – uma pessoa que vai para a escola assim – consegue despertar em alguém?
Afora essa problemática subjetiva – gostem ou não – ela existe, os/as alunos/as estão aí: alfabetizados/as, não alfabetizados/as, negros/as, gays, pobres, com necessidades educativas especiais, superdotados, enfim...todos/as sabem: todos/as estão na escola.
Essa escola precisa fazer sentido. Para os/as alunos/as e para os/as professores/as. Como construir esse sentido? Digo com toda a certeza que esse sentido surge na construção de um Projeto Comum, um projeto que seja político e pedagógico. Um projeto que olhe lá na frente, mas que aconteça agora, com a humanidade presente, na construção do humano no sentido mais simples de sua concepção: a busca do ser mais. Um projeto que dê a todas e todos acesso à bens culturais, ao conhecimento construído pela humanidade e que vá além, que proporcione a construção de conhecimento.
Uma pessoa – pra lecionar – precisa decidir se ama o mundo o suficiente para querer trabalhar em algo que o tenha como meta. E precisa decidir se quer – realmente – um mundo mais justo, igualitário e diverso. Do contrário, sugiro que procure outro trabalho. Lidar com máquinas talvez seja melhor. A Educação Pública precisa de pessoas com a mente aberta para investir no humano. Pense nisso, reflita e decida. Se decidir por continuar, amanhã com certeza seu olhar será outro. E sua aula será outra...

Edna Telles

Fonte da imagem: http://flor-essencia.blogspot.com.br/2010/09/video-aula-1-as-revolucoes-educacionais.html (acesso em 01/10/2012)