quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

LEITURA E ESCRITA NA ESCOLA: DESAFIOS ÀS EDUCADORAS E EDUCADORES

Olá pessoal, tudo bem?

Um dos assuntos mais interessantes e instigantes na escola – a meu ver –  é a questão da leitura e da escrita. Leio muito a respeito, pesquiso, procuro discutir na escola e nos cursos que ministro. Faz-se necessário discutir amplamente e buscar ações no dia-a-dia da escola para que as meninas e os meninos possam ser produtores/as da língua escrita. Mas como fazer isso? Como desenvolver a linguagem escrita, a oralidade, a leitura desde o CEI (centro de educação infantil, antiga creche)? Publicarei nesse espaço algumas dicas, englobando educação infantil e ensino fundamental.

Para iniciar, não posso deixar de fazer uma homenagem à literatura, reiterando a importância de apresentá-la de forma prazerosa na escola. Para tanto, segue um texto de Lygia Bojunga:

LIVRO, A TROCA
Pra mim, livro é vida; desde que eu era muito pequena os livros me deram casa e comida.
Foi assim: eu brincava de construtora, livro era tijolo; em pé, fazia parede, deitado, fazia degrau de escada; inclinado, encostava num outro e fazia telhado.
E quando a casinha ficava pronta eu me espremia lá dentro pra brincar de morar em livro.
De casa em casa eu fui descobrindo o mundo (de tanto olhar pras paredes). Primeiro, olhando desenhos; depois, decifrando palavras.
Fui crescendo; e derrubei telhados com a cabeça.
Mas fui pegando intimidade com as palavras. E quanto mais íntimas a gente ficava, menos eu ia me lembrando de consertar o telhado ou de construir novas casas. Só por causa de uma razão: o livro agora alimentava a minha imaginação.
Todo dia a minha imaginação comia, comia e comia; e de barriga assim toda cheia, me levava pra morar no mundo inteiro: iglu, cabana, palácio, arranha-céu, era só escolher e pronto, o livro me dava.
Foi assim que, devagarinho, me habituei com essa troca tão gostosa que – no meu jeito de ver as coisas – é a troca da própria vida; quanto mais eu buscava no livro, mais ele me dava.
Mas, como a gente tem mania de sempre querer mais, eu cismei um dia de alargar a troca: comecei a fabricar tijolo pra – em algum lugar – uma criança juntar com outros, e levantar a casa onde ela vai morar.



PARA TRANSFORMAR O ENSINO DA LEITURA E DA ESCRITA

QUAL É O DESAFIO DA ESCOLA?

  • Formar praticantes da leitura e da escrita e não apenas sujeitos que possam “decifrar” o sistema escrita
  • É formar leitores que saberão escolher o material escrito adequado para buscar a solução de problemas que devem enfrentar e não alunos capazes apenas de oralizar um texto por outro.
  • É formar seres humanos críticos, capazes de ler entrelinhas e de assumir uma posição própria frente à mantida, explícita ou implicitamente, pelos autores dos textos com os quais interagem, em vez de persistir em formar indivíduos dependentes da letra do texto e da autoridade dos outros.
  • O desafio é formar pessoas desejosas de embrenhar-se em outros mundos possíveis que a literatura nos oferece, dispostas a identificar-se com o semelhante ou a solidarizar-se com o diferente e capazes de apreciar a qualidade literária.
  • Assumir esse desafio significa abandonar as atividades mecânicas e desprovidas de sentido, que levam as crianças a distanciar-se da leitura por considerá-la uma mera obrigação escolar.
  • Incorporar situações em que ler determinados materiais seja imprescindível para o desenvolvimento dos projetos que estejam levando a cabo.
  • O desafio é orientar as ações para a formação de escritores, como pessoas que saibam comunicar-se por escrito com os demais e com elas mesmas, em vez de continuar fabricando sujeitos quase ágrafos, para quem a escrita é tão estranha, que se recorre à ela somente em última instância e depois de ter esgotado todos os meios para escapar de tal obrigação.
  • O desafio é conseguir que os alunos cheguem a ser produtores de língua escrita, conscientes da pertinência e da importância de emitir certo tipo de mensagem em determinado tipo de situação social, em vez de treinar como copistas que só reproduzem o escrito por outros ou como receptores de ditados cuja finalidade se reduz à avaliação por parte do professor.
  • O desafio é que as crianças manejem com eficácia os diferentes escritos que circulam na sociedade e cuja utilização é necessária ou enriquecedora


ALGUMAS DICAS:

Características de uma boa atividade de linguagem (escrita):

  • Situação social definida (qual a finalidade dessa escrita): escrever para quem, para quê e como?
  • O gênero do discurso precisa estar definido
  • Pensar em propostas onde faça sentido escrever, importância de trabalhar situações reais de comunicação onde se escrever para alguém ler e não para o professor corrigir.
  • Construção de um trabalho com gêneros e leitura e escrita: importância do diagnóstico (planilhas diagnósticas): o que o aluno sabe e o que precisa aprender
  • Para que o aluno escreva bem, é necessário que tenha contato com bons textos, é necessário que o professor leia bons textos e não textos simplificados
  • Considerar a diversidade de níveis de aprendizagem (trabalhar com agrupamentos) e com as necessidades da turma (quais as dificuldades daquela turma em específico)
  • Conteúdo: comportamento escritor

O trabalho com leitura na escola (sugestões e comentários)

  • Leitura compartilhada – leitura feita pelo professor (de bons textos) - “em uma leitura compartilhada, o professor assume o papel daquele que revela, nas entonações, o efeito da pontuação, que explicita o costume de um bom leitor de questionar o texto, que instiga o grupo a estabelecer finalidades para a leitura, a se envolver com o enredo, a buscar indícios, a levantar hipóteses, a antecipar, a fazer inferências e a se posicionar diante das idéias do autor” – (referenciais de ciclo II)
  • Situações diversas de leitura com diferentes finalidades (ler por prazer, para aprender, etc...) e com diferentes organizações (leitura feita pelo professor, leitura feita pelo aluno, individual, em grupo, em dupla, em voz alta)
  • O professor precisa trabalhar o antes, o durante e o depois da leitura, onde o professor assume a tarefa de mediador da leitura, lembrando que ler e escrever são tarefas de todas as áreas do conhecimento.
  • Rejeitar práticas que transformam a leitura e a escrita nas diferentes áreas um ritual burocrático, no qual o estudante lê sem ter condições de discutir, responde a questionários mecanicamente e escreve textos somente para concordar com as idéias do professor ou do autor do texto.
  • Trabalhar com três níveis de interpretação (localização de informações, compreensão do texto e reflexão sobre o assunto do texto), o professor precisa elaborar boas questões que contemple esses três itens.
  • Empréstimo de livros
  • Roda de leitores
  • Conteúdo: comportamento leitor