sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Terezinha Azerêdo Rios no Seminário de Educadores/as do Jaraguá

No dia 14 de setembro tivemos na região das escolas do Jaraguá, o Seminário de Educação, cujo tema central foi “MULTIPLAS LINGUAGENS COMO POTENCIALIZADORAS DO CURRICULO: A NECESSIDADE DE (RE)CRIAR A AÇÃO DOCENTE, OS TEMPOS E ESPAÇOS EDUCATIVOS”. O seminário contou com a palestra de Terezinha Azeredo Rios pela manhã e de Ana Maria Saul pela tarde. Nos dois períodos também ocorreram oficinas apresentadas pelas pessoas das escolas da região (entre CEIs, EMEIs e EMEFs) e colaboradores/as. Eu ministrei uma oficina junto com a POIE da escola onde sou coordenadora pedagógica, Marcella Fusatti, cujo título era: MÚLTIPLAS LINGUAGENS E NOVAS TECNOLOGIAS: UM NOVO PARADIGMA EDUCACIONAL COM USO DE LAPTOPS EM SALA DE AULA. Nessa oficina apresentamos o Projeto UCA (Um computador por aluno) e levamos os laptops educacionais para a realização da mesma.
Mas a contextualização aqui feita tem o objetivo de apresentar a seguir as minhas anotações da palestra da professora Terezinha Azerêdo Rios, que foi simplesmente maravilhosa e acredito que conhecimento só tem valor se a gente compartilha.

 

Mineira de Belo Horizonte, Terezinha Azerêdo Rios formou-se em Filosofia na UFMG. Fez o mestrado em Filosofia da Educação na PUC-SP e o doutorado em Educação na Faculdade de Educação da USP. É professora da PUC-SP. Faz parte do Conselho Editorial de Educação da Cortez Editora, pela qual publicou Ética e Competência e Compreender e ensinar – por uma docência da melhor qualidade, e, pela Editora Moderna, Filosofia na escola – o prazer da reflexão, em parceria com Marcos Lorieri. Trabalha também como assessora e consultora em projetos de formação de professores e educação continuada de profissionais de diversas áreas do conhecimento.

A professora Terezinha iniciou sua palestra, que era sobre os desafios da profissão docente, citando Paulo Freire: “A prática de pensar a prática é a melhor maneira de pensar certo”. E indagou: será que estamos sempre refletindo sobre o nosso trabalho? Pensar, nós pensamos sempre, mas nem sempre refletimos. E para completar o raciocínio, cita em seguida, o grande escritor José Saramago: “Se podes olhar. vê. Se podes ver, repara”. Reparar implica um olhar atento. Envolvidas/os no trabalho cotidiano, muitas vezes a gente não tem condições de reparar. É necessário “olhar para o nosso trabalho”, reparar atentamente. Um olhar crítico, um olhar com abrangência, é preciso ver com clareza, é preciso “desembaçar os óculos”, ver fundo, não se contentar com a superfície, com as aparências.
Diz em seguida que a realidade é contraditória, depende do jeito que a gente vê. Uma pessoa pode ser alta. Mas depende do ponto de comparação. Dependendo, pode ser baixa. Então, uma pessoa não é alta ou baixa, ela é alta e baixa. O curto pode ser comprido. Depende. É curto e comprido. Nesse sentido, o desafio seríssimo é colocar-se no lugar do outro. É levar em consideração o olhar que esse outro tem da realidade. A pergunta tem que ser pelo sentido, pelo significado, pelo valor.
É importante em nosso trabalho perguntarmos: O que fazer? Como fazer? Mas o mais importante é perguntar: para que? Essa é pergunta fundamental. O desafio da nossa profissão é ter a humildade e a coragem de assumir uma atitude crítica. Pois uma atitude crítica requer coragem porque é uma atitude perigosa. Nos mostra as vezes aquilo que não queremos ver. Nos aponta coisas que talvez precisemos modificar. Perguntemo-nos: meu ofício me agrada? Que ofício é esse? O que faz um/uma professor/a? O que tem que fazer um/uma professor/a? A gente quer ser um/uma bom/boa professor/a? O que faz um/uma bom/boa professor/a?
Ser professor é construir a humanidade. A Educação é a socialização da cultura. É a partilha do que a humanidade constrói. Ninguém nasce humano, torna-se humano. E vamos nos tornando humanos por um processo educativo, que no âmbito da escola é sistemático e organizado, onde se constrói e reconstrói cultura para a formação de seres humanos. A questão é: que humanidade eu quero construir? E então estabeleço currículo, organizo políticas. É a construção de si e dos outros para o exercício da cidadania. É construir liberdade com responsabilidade. O desafio guarda nele um gesto de desconfiança. E o que é que se coloca em dúvida em relação ao nosso ofício? Dar conta do nosso trabalho em todas as dimensões da competência: ética, política e estética. É um ofício complexo. Mas a competência não está pronta, ela vai se construindo. Ser competente hoje é diferente de ser competente ontem. Faz-se necessário indagar: é isso mesmo que eu preciso saber? É isso mesmo que eu preciso ensinar? E é importante lembrar que ninguém é competente sozinho. As condições não estão apenas em mim. Está no entorno, está no contexto. E termina sua palestra, citando João Cabral de Melo Neto: “um galo sozinho não tece uma manhã, ele precisará sempre de outros galos...”