No
dia 14 de setembro tivemos na região das escolas do Jaraguá, o
Seminário de Educação, cujo tema central foi “MULTIPLAS
LINGUAGENS COMO POTENCIALIZADORAS DO CURRICULO: A NECESSIDADE DE
(RE)CRIAR A AÇÃO DOCENTE, OS TEMPOS E ESPAÇOS EDUCATIVOS”. O
seminário contou com a palestra de Terezinha Azeredo Rios pela manhã
e de Ana Maria Saul pela tarde. Nos dois períodos também ocorreram
oficinas apresentadas pelas pessoas das escolas da região (entre
CEIs, EMEIs e EMEFs) e colaboradores/as. Eu ministrei uma oficina
junto com a POIE da escola onde sou coordenadora pedagógica,
Marcella Fusatti, cujo título era: MÚLTIPLAS LINGUAGENS E NOVAS
TECNOLOGIAS: UM NOVO PARADIGMA EDUCACIONAL COM USO DE LAPTOPS EM SALA
DE AULA. Nessa oficina apresentamos o Projeto UCA (Um computador por
aluno) e levamos os laptops educacionais para a realização da
mesma.
Mas
a contextualização aqui feita tem o objetivo de apresentar a seguir
as minhas anotações da palestra da professora Terezinha Azerêdo
Rios, que foi simplesmente maravilhosa e acredito que conhecimento só
tem valor se a gente compartilha.
Fonte
da imagem:
http://pedagogiaunicidiesdeguaianas.spaceblog.com.br/889455/Terezinha-Azeredo-Rios-COMPREENDER-E-ENSINAR-POR-UMA-DOCENCIA-DA-MELHOR-QUALIDADE/
Mineira
de Belo Horizonte, Terezinha Azerêdo Rios formou-se em Filosofia na
UFMG. Fez o mestrado em Filosofia da Educação na PUC-SP e o
doutorado em Educação na Faculdade de Educação da USP. É
professora da PUC-SP. Faz parte do Conselho Editorial de Educação
da Cortez Editora, pela qual publicou Ética e Competência e
Compreender e ensinar – por uma docência da melhor qualidade,
e, pela Editora Moderna, Filosofia na escola – o prazer da
reflexão, em parceria com Marcos Lorieri. Trabalha também como
assessora e consultora em projetos de formação de professores e
educação continuada de profissionais de diversas áreas do
conhecimento.
A
professora Terezinha iniciou sua palestra, que era sobre os desafios
da profissão docente, citando Paulo Freire: “A prática de
pensar a prática é a melhor maneira de pensar certo”. E
indagou: será que estamos sempre refletindo sobre o nosso trabalho?
Pensar, nós pensamos sempre, mas nem sempre refletimos. E para
completar o raciocínio, cita em seguida, o grande escritor José
Saramago: “Se podes olhar. vê. Se podes ver, repara”.
Reparar implica um olhar atento. Envolvidas/os no trabalho cotidiano,
muitas vezes a gente não tem condições de reparar. É necessário
“olhar para o nosso trabalho”, reparar atentamente. Um olhar
crítico, um olhar com abrangência, é preciso ver com clareza, é
preciso “desembaçar os óculos”, ver fundo, não se contentar
com a superfície, com as aparências.
Diz
em seguida que a realidade é contraditória, depende do jeito que a
gente vê. Uma pessoa pode ser alta. Mas depende do ponto de
comparação. Dependendo, pode ser baixa. Então, uma pessoa não é
alta ou baixa, ela é alta e baixa. O curto pode ser comprido.
Depende. É curto e comprido. Nesse sentido, o desafio seríssimo é
colocar-se no lugar do outro. É levar em consideração o olhar que
esse outro tem da realidade. A pergunta tem que ser pelo sentido,
pelo significado, pelo valor.
É
importante em nosso trabalho perguntarmos: O que fazer? Como fazer?
Mas o mais importante é perguntar: para que? Essa é pergunta
fundamental. O desafio da nossa profissão é ter a humildade e a
coragem de assumir uma atitude crítica. Pois uma atitude crítica
requer coragem porque é uma atitude perigosa. Nos mostra as vezes
aquilo que não queremos ver. Nos aponta coisas que talvez precisemos
modificar. Perguntemo-nos: meu ofício me agrada? Que ofício é
esse? O que faz um/uma professor/a? O que tem que fazer um/uma
professor/a? A gente quer ser um/uma bom/boa professor/a? O que faz
um/uma bom/boa professor/a?
Ser
professor é construir a humanidade. A Educação é a socialização
da cultura. É a partilha do que a humanidade constrói. Ninguém
nasce humano, torna-se humano. E vamos nos tornando humanos por um
processo educativo, que no âmbito da escola é sistemático e
organizado, onde se constrói e reconstrói cultura para a formação
de seres humanos. A questão é: que humanidade eu quero construir?
E então estabeleço currículo, organizo políticas. É a construção
de si e dos outros para o exercício da cidadania. É construir
liberdade com responsabilidade. O desafio guarda nele um gesto de
desconfiança. E o que é que se coloca em dúvida em relação ao
nosso ofício? Dar conta do nosso trabalho em todas as dimensões da
competência: ética, política e estética. É um ofício complexo.
Mas a competência não está pronta, ela vai se construindo. Ser
competente hoje é diferente de ser competente ontem. Faz-se
necessário indagar: é isso mesmo que eu preciso saber? É isso
mesmo que eu preciso ensinar? E é importante lembrar que ninguém é
competente sozinho. As condições não estão apenas em mim. Está
no entorno, está no contexto. E termina sua palestra, citando João
Cabral de Melo Neto: “um galo sozinho não tece uma manhã, ele
precisará sempre de outros galos...”