sexta-feira, 18 de março de 2011

A busca por uma Educação de qualidade

Para falar Educação de qualidade, faz-se necessário primeiramente explicitar o que se entende por Educação e por qualidade. Hoje, o assunto educação tornou-se um dos mais importantes na política e na sociedade como um todo. Não faltam pessoas querendo “melhorar” a Educação. Mas o que seria necessário para melhorar a Educação? O que isso significa? Se não deixarmos claro o que entendemos como qualidade e educação, corremos o risco de empreender esforços contra nós mesmos, conseguindo no máximo a reprodução de uma educação ruim e autoritária. Em primeiro lugar, estou convencida de que educar não é preparar para ganhar dinheiro ou para trabalhar. Apenas isso é pouco. Mas para explicar o que é Educação como a entendo, é preciso deixar claro o que não é educação: a existência de alguém que sabe e alguém que não sabe. Alguém que detém conhecimentos e informações e alguém que não detém. E esse alguém que sabe passa esses conhecimentos e informações para alguém que não sabe. Educação –nessa concepção – se reduz à isso: passagem de conteúdos para que se cobre lá na frente em testes e provas, a chamada “educação bancária”, segundo Paulo Freire. Pior ainda é a idéia de passar conhecimentos sem se importar como. A escola seleciona e fiscaliza. Essa é a escola que alguns saudosistas dizem ter saudade: a escola que excluía os que realmente precisavam dela, porque os que lá estavam e permaneciam, aprendiam apesar da escola, já vinham letrados de casa. Os que tinham dificuldades saíam da escola logo no primeiro ano. Essa escola era boa? Péssima. Segundo o professor Vitor Paro “a escola não precisava ser boa, ela podia dar-se ao luxo de ser ruim, porque ela não era para as massas. Mais ou menos o que fazem hoje as chamadas “boas” escolas privadas, que também continuam selecionando seus alunos” (Paro, 2010, pág. 84). A fiscalização vinha na forma de exames e reprovações. Dessa forma, o fracasso era sempre jogado para a vítima, era uma forma de não assumir o trabalho que era feito. Que escola competente era essa?  E que escola temos hoje? Precisamos pensar em educação como algo diferente disso, uma educação humanista, que considere a especificidade do ser humano como ser criativo, como ser humano – histórico – cultural e necessariamente plural, que se articula com outros/as, então é um ser político, do ponto de vista da convivência com as pessoas. Essa convivência pode ser autoritária ou dialógica. Na forma autoritária, tornamos nosso semelhante reduzido a objeto. Na forma dialógica, o outro – e nós mesmos – somos sujeitos. Nós nos fazemos humanos na medida em que nos tornamos sujeitos. O sujeito, o ser humano, produz cultura em seu fazer histórico. Tudo o que não existe naturalmente, que é criado pelo ser humano, chamamos de cultura.  “Cada nova geração se apropria da cultura histórica e essa apropriação da cultura tem um nome: chama-se educação” (Paro, 2010, pág. 89). Ser sujeito significa ser senhor de vontade. E, segundo Paro, a educação que visa à produção do ser humano-histórico, só se dá se o educando for um ser de vontade. Significa que o educando só aprende se quiser. Isso é óbvio, mas é algo negado na nossa prática diária. Ser sujeito significa ser senhor/a de ação. Ninguém é sujeito se não reflete, não se faz autônomo/a, cidadão/ã. Quem quer aprender, aprende em qualquer lugar. “Levar o/a aluno/a a querer aprender é 101% da didática e dizer que “a escola é boa, mas a criança não aprendeu porque não quis” é o mesmo que dizer que a cirurgia foi um sucesso, mas o paciente morreu. Se não houve aprendizado, não houve ensino” (Paro, 2010, pág. 92). Os/as educadores/as devem propiciar aos/as educandos/as a condição de sujeitos e devemos compreender que a criança se faz sujeito de modo diverso do adulto. A criança de 6, 7, 8 anos de idade se faz sujeito brincando e se não tivermos uma escola que brinca, não teremos uma escola. A Educação precisa ter caráter científico. Não dá pra termos aulas iguais para crianças de idades diferentes, isso é desconhecer o desenvolvimento infantil. Será que não estamos lutando por uma escola conservadora? Pensem nisso.

Referência bibliográfica:
PARO, Vitor Henrique. Educação como exercício do poder: crítica ao senso comum em educação. 2ªedição, São Paulo, Cortez, 2010.