segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Escola para a diversidade: faz sentido para você?



A escola face ao contemporâneo é a escola da diversidade. Pelo menos é isso que qualquer discurso educacional que se pretenda sério explicita. Ouve-se falar em diversidade na escola em discussões sobre projetos políticos pedagógicos, nas orientações gerais das expectativas de aprendizagem, nas partes teóricas acopladas aos livros didáticos (que vamos e venhamos, quase ninguém as lê), nos congressos educacionais, nas reuniões em diretorias de ensino, no senso comum em geral. Mas, o que é a diversidade? O que é trabalhar com a diversidade? Sabemos lidar com a diversidade?
Em primeiro lugar, a “diversidade” são os outros. São aqueles e aquelas que não se encaixam nos modelos considerados “normais”. Geralmente esses modelos são construídos pautados em relações de poder, numa visão elitista e androcêntrica do mundo (indivíduo do sexo masculino como centro de todas as coisas). A diversidade são os/as negros/as, os índios/as, os/as pobres, as mulheres, os/as homossexuais, os/as assexuais, os/as idosos/as, e pasmem! Também muitas vezes, as crianças. E lidar com a diversidade é lidar, em primeiro lugar, com nossos próprios preconceitos.
Falar de diversidade na escola pública é falar de um compromisso com o público, com o diverso e, portanto, não com valores próprios, mas com valores comuns. A escola pública é para todas e todos. É por meio da educação escolar que deve-se construir uma cultura cidadã, onde todos/as se respeitem e tenham as mesmas oportunidades e condições de trabalho e de aprendizagem. Não é tarefa fácil, ainda mais nos dias de hoje que, para além das questões da diversidade, ainda temos que pensar nas questões do acesso às tecnologias digitais e ao mundo que elas são acesso.
Os desafios da profissão docente hoje são imensos. Um/uma professor/a precisa aprender a lidar com a tecnologia e, ao mesmo tempo, superar seus próprios preconceitos e trabalhar para a diversidade.
Uma auto-avaliação deve ser feita por todas e todos que estão nas salas de aula: o que é necessário ensinar nos dias de hoje para que meus alunos e minhas alunas tenham acesso ao mundo em que vivem de forma atuante e crítica? Estou ensinando o que é necessário? Estou ensinando da melhor forma? Será que todos/as os/as alunos/as aprendem da mesma forma, o mesmo conteúdo e ao mesmo tempo? Aqui já entramos nas questões que envolvem além de todas as diversidades explicitadas anteriormente, a diversidade de ritmos de aprendizagem.
Qual é o sentido da escola para suas alunas e seus alunos? Vocês já se perguntaram isso? Já perguntaram para eles/elas? E qual é o sentido da escola hoje? O que você faz, tem sentido para você? Porque estou perguntando isso agora? Porque para que desenvolvamos um olhar “para o/a outro/a”, precisamos lançar também um olhar para nós mesmos. Pensar sobre se faz sentido para nós o que fazemos, nos ajuda a buscar caminhos. Tem gente que vai para a escola como se fosse para um velório. Já sente que não há mais o que fazer. Então, que sentido tem isso? Que interesse pelo saber – uma pessoa que vai para a escola assim – consegue despertar em alguém?
Afora essa problemática subjetiva – gostem ou não – ela existe, os/as alunos/as estão aí: alfabetizados/as, não alfabetizados/as, negros/as, gays, pobres, com necessidades educativas especiais, superdotados, enfim...todos/as sabem: todos/as estão na escola.
Essa escola precisa fazer sentido. Para os/as alunos/as e para os/as professores/as. Como construir esse sentido? Digo com toda a certeza que esse sentido surge na construção de um Projeto Comum, um projeto que seja político e pedagógico. Um projeto que olhe lá na frente, mas que aconteça agora, com a humanidade presente, na construção do humano no sentido mais simples de sua concepção: a busca do ser mais. Um projeto que dê a todas e todos acesso à bens culturais, ao conhecimento construído pela humanidade e que vá além, que proporcione a construção de conhecimento.
Uma pessoa – pra lecionar – precisa decidir se ama o mundo o suficiente para querer trabalhar em algo que o tenha como meta. E precisa decidir se quer – realmente – um mundo mais justo, igualitário e diverso. Do contrário, sugiro que procure outro trabalho. Lidar com máquinas talvez seja melhor. A Educação Pública precisa de pessoas com a mente aberta para investir no humano. Pense nisso, reflita e decida. Se decidir por continuar, amanhã com certeza seu olhar será outro. E sua aula será outra...

Edna Telles

Fonte da imagem: http://flor-essencia.blogspot.com.br/2010/09/video-aula-1-as-revolucoes-educacionais.html (acesso em 01/10/2012)