A escola
face ao contemporâneo é a escola da diversidade. Pelo menos é isso
que qualquer discurso educacional que se pretenda sério explicita.
Ouve-se falar em diversidade na escola em discussões sobre projetos
políticos pedagógicos, nas orientações gerais das expectativas de
aprendizagem, nas partes teóricas acopladas aos livros didáticos
(que vamos e venhamos, quase ninguém as lê), nos congressos
educacionais, nas reuniões em diretorias de ensino, no senso comum
em geral. Mas, o que é a diversidade? O que é trabalhar com a
diversidade? Sabemos lidar com a diversidade?
Em
primeiro lugar, a “diversidade” são os outros. São aqueles e
aquelas que não se encaixam nos modelos considerados “normais”.
Geralmente esses modelos são construídos pautados em relações de
poder, numa visão elitista e androcêntrica do mundo (indivíduo do
sexo masculino como centro de todas as coisas). A diversidade são
os/as negros/as, os índios/as, os/as pobres, as mulheres, os/as
homossexuais, os/as assexuais, os/as idosos/as, e pasmem! Também
muitas vezes, as crianças. E lidar com a diversidade é lidar, em
primeiro lugar, com nossos próprios preconceitos.
Falar de
diversidade na escola pública é falar de um compromisso com o
público, com o diverso e, portanto, não com valores próprios, mas
com valores comuns. A escola pública é para todas e todos. É por
meio da educação escolar que deve-se construir uma cultura cidadã,
onde todos/as se respeitem e tenham as mesmas oportunidades e
condições de trabalho e de aprendizagem. Não é tarefa fácil,
ainda mais nos dias de hoje que, para além das questões da
diversidade, ainda temos que pensar nas questões do acesso às
tecnologias digitais e ao mundo que elas são acesso.
Os
desafios da profissão docente hoje são imensos. Um/uma professor/a
precisa aprender a lidar com a tecnologia e, ao mesmo tempo, superar
seus próprios preconceitos e trabalhar para a diversidade.
Uma
auto-avaliação deve ser feita por todas e todos que estão nas
salas de aula: o que é necessário ensinar nos dias de hoje para que
meus alunos e minhas alunas tenham acesso ao mundo em que vivem de
forma atuante e crítica? Estou ensinando o que é necessário? Estou
ensinando da melhor forma? Será que todos/as os/as alunos/as
aprendem da mesma forma, o mesmo conteúdo e ao mesmo tempo? Aqui já
entramos nas questões que envolvem além de todas as diversidades
explicitadas anteriormente, a diversidade de ritmos de aprendizagem.
Qual é o
sentido da escola para suas alunas e seus alunos? Vocês já se
perguntaram isso? Já perguntaram para eles/elas? E qual é o sentido
da escola hoje? O que você faz, tem sentido para você? Porque estou
perguntando isso agora? Porque para que desenvolvamos um olhar “para
o/a outro/a”, precisamos lançar também um olhar para nós mesmos.
Pensar sobre se faz sentido para nós o que fazemos, nos ajuda a
buscar caminhos. Tem gente que vai para a escola como se fosse para
um velório. Já sente que não há mais o que fazer. Então, que
sentido tem isso? Que interesse pelo saber – uma pessoa que vai
para a escola assim – consegue despertar em alguém?
Afora
essa problemática subjetiva – gostem ou não – ela existe, os/as
alunos/as estão aí: alfabetizados/as, não alfabetizados/as,
negros/as, gays, pobres, com necessidades educativas especiais,
superdotados, enfim...todos/as sabem: todos/as estão na escola.
Essa
escola precisa fazer sentido. Para os/as alunos/as e para os/as
professores/as. Como construir esse sentido? Digo com toda a certeza
que esse sentido surge na construção de um Projeto Comum, um
projeto que seja político e pedagógico. Um projeto que olhe lá na
frente, mas que aconteça agora, com a humanidade presente, na
construção do humano no sentido mais simples de sua concepção: a
busca do ser mais. Um projeto que dê a todas e todos acesso à bens
culturais, ao conhecimento construído pela humanidade e que vá
além, que proporcione a construção de conhecimento.
Uma
pessoa – pra lecionar – precisa decidir se ama o mundo o
suficiente para querer trabalhar em algo que o tenha como meta. E
precisa decidir se quer – realmente – um mundo mais justo,
igualitário e diverso. Do contrário, sugiro que procure outro
trabalho. Lidar com máquinas talvez seja melhor. A Educação
Pública precisa de pessoas com a mente aberta para investir no
humano. Pense nisso, reflita e decida. Se decidir por continuar,
amanhã com certeza seu olhar será outro. E sua aula será outra...
Edna Telles
Fonte da imagem: http://flor-essencia.blogspot.com.br/2010/09/video-aula-1-as-revolucoes-educacionais.html (acesso em 01/10/2012)