quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A você: professora, professor...

Gostaria de – nessas poucas linhas – poucas para expressar algo que é tão profundo... gostaria de agradecer a todas as professoras e professores que conheço e os que não conheço também... agradecer pelo trabalho desenvolvido esse ano, por acreditar na Educação Pública de Qualidade e por buscar essa qualidade a cada dia. Falo isso agora pensando nas professoras e professores que trabalham comigo na EMEF Ernani Silva Bruno... semana passada li uma a uma as avaliações individuais de cada uma/um e confesso que me emocionei pois sei que cada uma/um de vocês procura dar o seu melhor na escola. Acertando, errando, mais sempre com um objetivo em comum: uma sociedade melhor, a partir do trabalho com essas meninas e meninos. É no dia-a-dia da escola que vivemos essa construção... na preocupação com a  criança que ainda não aprendeu a ler e a escrever, na preocupação em acolher os/as pequeninos/as que ali chegam com 6 anos, na preocupação em acolher e envolver os/as adolescentes que chegam ao fundamental II, no aprendizado do uso das novas tecnologias para inserir meninas e meninos na cultura digital, na preocupação com as escolhas que se faz para o planejamento, na preocupação com as crianças com necessidades educativas especiais, na preocupação com a inclusão das crianças que já estão na escola, buscando sempre uma educação que realmente trabalhe com a diversidade na perspectiva da equidade. Sei que são tantas as dificuldades... e analisá-las de forma isolada seria simplista demais... não há soluções fáceis para problemas complexos!
O desafio é muito grande ainda para conseguirmos uma sociedade e uma escola que garanta direitos básicos a todas e a todos. Mas estamos no caminho e é nesse dia-a-dia que vamos construindo a mudança. Por saber que o caminho é longo e difícil, mas gratificante também é que desejo a todas e todos boas festas e que em 2011 possamos continuar lutando por um mundo melhor, com muita saúde para encarar todos os desafios que ainda temos!

Muito obrigada!

Edna Telles

domingo, 19 de dezembro de 2010

Para inspirar a discussão sobre a inclusão da criança de seis anos na escola de ensino fundamental


A incapacidade de ser verdadeiro
Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões da independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas.
A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos, feito queijo, e ele provou e tinha gosto de queijo.
Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa, como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias. Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico.
Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça:
— Não há nada a fazer, Dona Coló. Esse menino é mesmo um caso de poesia.
(Carlos Drummond de Andrade)


 Abraços a todas e todos,
Edna Telles

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O mundo intelectual e o Movimento feminista brasileiro perdeu uma de suas mais importantes referências: morre Heleieth Saffioti

Morreu no dia 13/12/2010 aos 76 anos, a socióloga, professora, pensadora e feminista Heleith Saffioti. A professora Heleieth é uma das mais importantes referências do Movimento Feminista brasileiro, professora de Filosofia há mais de 40 anos, iniciou a docência na UNESP de Araraquara. Buscou compreender os mecanismos de exploração das mulheres no capitalismo, sempre discutindo a relação entre racismo, patriarcado, capitalismo e a situação das mulheres na sociedade. Portanto, é referência nos estudos de gênero.
Publicou muitos livros, entre eles "O poder do macho" (1987), "Gênero, patriarcado e violência" (2004), "A mulher na sociedade de classes" (1970) e inúmeros e incontáveis artigos. Infelizmente não a conheci pessoalmente, mas compartilho de suas idéias e da grande perda que o Brasil teve. Porém, sua contribuição irá, com certeza, continuar a nos inspirar e servir como base para as pesquisas de gênero, feminismo e suas relações com o mundo capitalista. Abaixo, segue alguns links sobre a autora e seu falecimento:

Fundação Perseu Abramo

Araraquara.com

Secretaria Especial de políticas para as mulheres

Abaixo segue o link de um de seus textos:

Texto: Contribuições feministas para o estudo da violência de gênero

Obrigada pela relevante contribuição!
Edna Telles

FAMÍLIA E ESCOLA: UMA APROXIMAÇÃO POSSÍVEL E NECESSÁRIA

Olá a todas e a todos. Quero compartilhar neste espaço de discussão um pouco da experiência que tive na escola municipal de ensino fundamental onde trabalho em relação à aproximação entre família e escola. Sabe-se de antemão que este é assunto relevante no âmbito da Educação, muito discutido no meio acadêmico e que não há dúvida da necessidade das escolas em tentar sair do lugar comum de simplesmente realizar “reuniões de pais” para falar sobre rendimento e comportamento. Diga-se de passagem, esse último item, geralmente muito complicado do ponto de vista da exposição de pais e mães diante de seus pares e com isso, a vergonha, o desgosto e a posterior ausência da participação, que não raro, a culpa é colocada sempre na família (que é – segundo este ponto de vista –  “ausente” ou “desestruturada”). Mas mudar esse paradigma não é tarefa fácil, porém é possível e necessário. Acredito que onde trabalho estamos “caminhando” na busca por alternativas e por isso apresento aqui o que temos feito.
Em primeiro lugar, realizamos algumas parcerias. Desde 2004, desenvolvemos junto à PUC/SP com a equipe da professora doutora Heloísa Hszymanski e com a LABOR um projeto denominado “Projeto diálogo”, onde a idéia principal era construir um diálogo entre as várias Instituições da comunidade a qual a escola está inserida e que trabalham com as crianças da comunidade. No caso, a escola, as famílias, o centro de juventude, a creche, a biblioteca, o centro comunitário. Todas essas Intituições foram convidadas a participar. No final das contas, participaram mesmo a escola, as famílias, o centro de juventude e a creche Pianoro. No início, foi feito um grande diagnóstico nestas instituições para fazer um levantamento das prioridades de trabalho na escola do ponto de vista de cada uma delas. Antes, cada Instituição apresentou o que fazia, quais eram os objetivos institucionais, o trabalho que elas desenvolviam, a fim de que cada instituição se conhecesse melhor. Para o diagnóstico, cada segmento de cada Instituição conversou com seus pares e discutiu quais eram os problemas e as demandas principais sobre a escola. Entre os assuntos levantados estava a questão de como seria a escola ideal. Isso teve a duração de um ano. Em 2005, o resultado do diagnóstico resultou numa conclusão surpreendente: o que todo mundo queria, seja escola (professores/as, funcionários/as, alunos/as...), família, grupo de jovens creche – com relação à escola – era a mesma coisa: que todos/as os/as alunos/as fossem alfabetizados/as plenamente idealmente até o fim do segundo ano do ciclo I e, nos casos mais difíceis, até o fim de quarto ano do ciclo I. A partir daí, para 2006 foi traçado em plano de ação onde todas as atitudes foram tomadas a fim de que este grande objetivo fosse alcançado. Fizemos um trabalho com as famílias das crianças que apresentavam maiores dificuldades em se alfabetizar, nos reuníamos de 15 em 15 dias, para conversarmos a respeito de seus/suas filhos/as, como eram em casa, o que aprendiam com eles/as, qual a maneira de aprender de seus/suas filhos e filhas e como poderiam nos ajudar. Aprendemos muito com as famílias. Discutimos como desenvolvíamos o trabalho com essas crianças e as famílias compreenderam como a escola lidava com essas questões. Outra ação tomada foi o encontro quinzenal também com as educadoras destas crianças para discutirmos quais as melhores estratégias e atividades para atingir todas as crianças em suas diversidades de nível de aprendizagem. A LABOR ajudou muito nessa orientação pedagógica. Houve também o desenvolvimento de PPDs (Pequenos Projetos didáticos) por parte dos/das professores/as e orientados/as pela LABOR, desenvolvidos em sala de aula e apresentados ao final do ano. Uma outra ação a ser destacada foi a parceria com o grupo de jovens e a creche Pianoro. Nós tínhamos problemas em reunir as professoras das quartas séries para trabalhar a formação, devido ao horário que não coincidiam. Então, os jovens da comunidade Pianoro vinham até a escola e trabalhavam capoeira com todos/as os/as alunos/as. Nesse horário, eu me reunia com as professoras. Em contrapartida, eu e a Fran (coordenadoras pedagógicas) fazíamos a Formação das educadoras da creche. Foi uma troca muito rica. Aprendemos muito nesse processo que oficialmente durou de 2004 a 2008. Mas continua rendendo frutos até hoje. Aprendemos muito durante esse processo. Hoje, fazemos reuniões de pais, mães e responsáveis (família) formativas, para discutir assuntos diversos (a última foi sobre publicidade infantil), em horários compatíveis com os horários das famílias (a noite, aos sábados) e a participação foi grande. Mesmo a arrumação das salas nas reuniões entre família e mestras/es mudou: sempre em círculo, com café, um ambiente aconchegante... com senhas para atendimento individual, assim os pares não precisam saber da vida do filho/a do/da colega, a não ser que ele/a queira...rs.  A participação aumentou muito. Esse ano conseguimos a parceria da biblioteca da comunidade, desenvolvemos trabalho em conjunto e já vamos planejar 2011 junto com a biblioteca, inclusive já organizando um grupo de estudos, formação e oficinas com a comunidade para discutir bulliyng e respeito às diferenças. Vamos também planejar ações conjuntas com a creche e o grupo de jovens da Pianoro, todas as decisões referentes aos laptops do Projeto UCA (Um computador por aluno) são tomadas junto às famílias. O grupo está crescendo e quem ganha? Todos/as: escola, família, comunidade! Os resultados da escola melhoraram e aumentaram, tanto nas avaliações internas quanto nas externas. O número de crianças não alfabetizadas diminuiu muito. Acredito que estamos no caminho. Ainda faltam muitas conquistas, mas tudo é um processo. Já conseguimos mudanças significativas. O aprendizado: de que a aproximação entre escola e família é algo possível e necessário. Espero que tenha contribuído de alguma forma para que vocês pensem ações nas Instituições em que trabalham!

Abraço, Edna Telles.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Sobre o processo de escrita...


Pessoal, como esse blog tem como título “Educação, TICs e diversidade”, percebe-se que é extremamente amplo no que diz respeito a conteúdo. Educação pode englobar muitos assuntos, as metodologias de todas as disciplinas, a formação de professores/as, o currículo, entre inúmeros outros. Então, já que o contexto permite, publicarei aqui um texto escrito por mim em 2008, que fala sobre o processo de escrita, sobre o prazer de produzir um texto escrito. Lá vai:

Sobre escrita e dor de barriga

Talvez escrever seja uma forma de viver. E, sinceramente, se vive melhor ao escrever. Pode-se ser o que quiser, sentir o que quiser sem medo do julgamento – essa palavra feia de nosso vocabulário discriminatório.
– Que coisa esdrúxula! Diriam uns.
– Que perda de tempo! Diriam outros.
Tudo gente presa ainda nas amarras do utilitário, do aceitável e rentável.
Escrever não rende – no sentido de renda mesmo, não aquela do enfeite (antes fosse...), mas aquela do dinheiro. Talvez por isso não tenha o valor que deveria. Valor hoje é sinônimo de renda. Tu contas algo hoje e logo vem a pergunta: -- mas  o que ganhas com isso? Qual a vantagem?
Digo-te: escrevendo ganho liberdade, uma alma que não acredito ter em outros momentos. Ganho felicidade – palavra tão rara em nosso vocabulário tão corrido. Ganho vida, vivo. Nasço e permaneço crescendo a cada instante. Posso ser bela, intensa e grande como as cataratas do Iguaçu. Posso ser delicada como uma joaninha andando no dedo de uma criança e fazendo rir. Posso matar a todos que eu quiser sem precisar me desculpar e pagar por isso (e não me aches cruel, todos nós já quisemos matar alguém um dia, mesmo que simbolicamente, mesmo que fosse nós mesmos).Posso transbordar de mim mesma e me presentear com o prazer único que só quem escreve com sangue sabe o que o é. Se ler é adentrar em outros mundos possíveis, escrever é criar mundos possíveis – e impossíveis.
Escrever ainda é uma forma de contra ideologia, é uma resistência, é a expressão de uma revolta. Por isso há coisas que não se publica. Por isso há gente que ainda morre pelo que escreveu ou por ter feito jus ao que escreveu. Só sei que a escrita é algo que está dentro e de repente torna-se tão forte que não se consegue mais deixar lá, aí se escreve.
É como dor de barriga, não tem hora pra chegar. Simples assim. E da mesma forma, depois da  avalanche”, a sensação é muito boa...


sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Como fazer uma intervenção na escola com o objetivo de desconstruir estereótipos de gênero?

Sou coordenadora pedagógica de uma escola municipal (de ensino fundamental) em São Paulo. Como eu estudo a questão das relações de gênero e, mais especificamente, das relações de gênero na escola, foi inevitável que trouxesse a discussão para a formação da equipe docente a qual trabalho. O primeiro passo foi discutir o conceito de gênero e como esses significados aparecem na escola. Lemos e discutimos alguns textos ao longo do tempo em que trabalho na escola (07 anos). Já demos alguns passos em relação à mudanças: não escrevemos nem falamos no masculino, são sempre alunas e alunos, professores e professoras, mães, pais e responsáveis... Procuramos sempre ter o cuidado de oferecer as mesmas oportunidades à meninas e meninos, intervindo quando isso não ocorre, por exemplo, colocando como obrigatório que a monitoria seja composta por meninas e meninos em número igual em cada classe, entre outras coisas. Mas em 2010 acredito que demos um passo além. Com a chegada das crianças de 06 anos na escola, começamos a estudar e discutir a importância do brincar e de trazer a cultura da infância como relevante para o planejamento de atividades diversas. Nessa discussão, o grupo decidiu comprar brinquedos para as crianças do ciclo I (primeiro ao quinto ano) e ficou decidido que pelo menos duas vezes por semana, cada classe iria brincar. Mas, juntamos o útil ao agradável e discutimos também a importância de desconstruir a dicotomia de gênero que aparece muito fortemente quando o assunto é brinquedo. Então, separamos caixas de bonecas e utensílios domésticos e caixas de carrinhos e bonecos, de modo que um dia da semana todas as crianças da classe deveriam brincar com as bonecas e no outro dia com os carrinhos. Foi um alvoroço. De crianças questionando, buscando explicações e aprendendo a brincar com os/as colegas e de professoras querendo aprender mais sobre relações de gênero para poder intervir.  No início, levamos o segundo ano, fizemos uma roda de conversa (no pátio externo) e expliquei que havíamos comprado brinquedos e que eles/as iriam brincar duas vezes por semana. Todos/as adoraram e ficaram ansiosos/as. Então eu disse que iria pegar as caixas... voltei com as caixas de bonecas e logo ouvi a questão: -“Edna, os meninos não vão brincar? Cadê os brinquedos dos meninos?. Respondi: - “vão sim, todos vão brincar com as bonecas!”... a partir daí, muitos outros questionamentos surgiram. Alguns brincaram logo de cara, outros precisaram de várias conversas até tentar... A experiência tem sido muito boa e tenho certeza de que todos/as estamos aprendendo muito: alunos e alunas, professoras e professores.  Logo, logo, contarei mais sobre essa experiência. Abaixo, segue algumas imagens.






 Espero que essa experiência sirva como uma forma de despertar o interesse pelo assunto e de fazer com que se perceba que não é tarefa tão difícil tentar quebrar paradigmas dominantes, mas que para isso, é preciso estudar, entender, dialogar. A formação de professoras e professores é primordial para que possamos transformar a dura realidade que é a desigualdade de gênero que vemos na sociedade (apesar dos avanços). E a escola é o local onde há espaço para o diálogo e para a contestação, sempre buscando uma sociedade melhor, mais justa e igualitária.

Abraços, Edna Telles.