(Maria
Teresa Quiroz Velasco)
Que
mudanças ocorrem nos jovens, em suas formas de inter-relação e nos desafios que
devem enfrentar, no contexto de mudanças tecnológicas?
Se
as instituições já não proporcionam estabilidade, projetos em longo prazo, a
pessoa tem que improvisar o curso de sua vida. Em meio a flexibilidade extrema
do trabalho, os mais jovens tem que ser criativos e inovadores e desenvolver
habilidades para a adaptação e a resposta a desafios muito distintos. Se nada
está garantido, nem o local de trabalho, faz-se necessário um traço
característico de personalidade que descarte as experiências vividas. Isso tem
relação com o culto do “presente”, muito próprio da vida em idades mais jovens.
Para
R. Sennett, essas características aparecem não somente na economia, mas também
na cultura. Assim, as habilidades e sua duração no tempo vem mudando, o ciclo
do conhecimento é muito mais curto, e a idade afeta diretamente a questão do
talento e do reconhecimento social. Há novos valores que adquirem importância
nas sociedades contemporâneas. São eles: a inovação, a qual afirma o caráter
efêmero dos objetos e a variação dos processos frente a duração e a permanência
que haviam dominado momentos sociais anteriores.
Há
um conflito de valores porque enquanto os jovens abraçam o presente e as
mudanças, os adultos subscrevem a permanência e a tradição. A velocidade e a
aceleração mudam o valor do tempo e a visibilidade amplifica o sentido do olhar
e, em termos culturais, outorga valor àquilo que os mais jovens destinam suas energias: tornar-se
visíveis os eventos, os objetos, os produtos e as pessoas, de todas as formas
possíveis (Pérez Tornero, 1998: 266-267).
Martín
Hopenhayn soma à essas reflexões o fato de que vivemos um paradoxo porque nunca
se esperou tanto do sistema educativo como alavanca para o desenvolvimento e
como forma fundamental para enfrentar os desafios do presente:
Se espera do sistema educativo que promova a igualdade
e reduza as diferenças em termos de acesso a modernidade, a empregos
produtivos, ao bem estar, que atue como mecanismo de igualdade de
oportunidades. Se espera que transmita os conhecimentos necessários para o
desenvolvimento de cidadãos da sociedade da informação que participem
politicamente através dessas ferramentas. Se espera do sistema educativo que
promova uma sociedade multicultural a partir da diversidade de pontos de vista
e de perspectivas. Se esperam muitas coisas e obviamente o sistema educativo
não está dando nada disso, ou está dando muito pouco (Hopenhayn, 2007).
Acrescenta
ainda que se estende em nossos países um desinteresse pela escola e a perda de
legitimidade da figura da autoridade. Surge uma tensão entre autonomia e
disciplina, porque os jovens consomem cada vez mais informação desde pequenos,
tem uma enorme facilidade com as novas linguagens de intercâmbio informativo,
assim como valores mais flexíveis e expectativas por realizar suas próprias
buscas. A cultura juvenil está profundamente marcada pelo consumo audiovisual,
pela forma com que constroem suas referencias de identidade através da
indústria cultural, particularmente pela música. A identidade juvenil está hoje
em dia multiplicada em referenciais não duradouros, porém muito intensos,
muitos expressivos e não necessariamente muito fáceis de entender de fora.
Referências:
VELASCO,
Maria Teresa Quiroz. Tecnologias digitais: para a educação e a comunicação. In:
CURY, Lucilene (org). Tecnologias digitais nas interfaces da
comunicação/educação: desafios e perspectivas. 1 ed. – Curitiba, PR: CRV,
2012.
HOPENHAYN, M. Seminário de Análisis La
cooperación cultura-comunicación en Iberoamérica. Madrid: OEI, 2007.
SENNETT, R. La cultura del nuevo capitalismo.
Barcelona: Anagrama, 2006.
A
partir das reflexões apresentadas no texto, proponho as seguintes questões:
- Como as características do mundo contemporâneo, a dita “sociedade da informação” tem afetado o sistema educacional formal?
- A escola tem condições de responder a todas essas expectativas? Porque?
Edna
Telles
Fonte
da imagem: http://tag032009.blogspot.com.br/2011/01/i-sociedade-da-informacao_27.html
(acesso em 30/08/2012, às 23h44)
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