sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A diversidade e as famílias na escola: realidade ou ficção?


Um trabalho de qualidade que considere a diversidade na escola exige reflexão-ação-reflexão e pequenas atitudes cotidianas em diversas frentes. Os pontos a considerar são inúmeros. Um deles, por exemplo, é a visão construída de família que a escola tem. Por incrível que pareça, as pessoas ainda acabam trabalhando em uma lógica onde a família se restringe a pai, mãe e filhos/as. Ou ainda a idéia elitista de que as famílias são desestruturadas por que não se encaixam nesse modelo. A família desestruturada é sempre a do outro. Os problemas são sempre dos outros. Considerando a realidade em que vivemos, há que se considerar família algo bem ampliado, como um grupo de pessoas que convivem e cuidam umas das outras, independente de laço sanguíneo. Pai pode ser qualquer pessoa que cumpra o papel de pai, independente do sexo. Mãe da mesma forma. Há famílias onde tudo gira em torno da avó. Há famílias com casais de homens. Há famílias com casais de mulheres. Há pais e mães adotados por cumprirem uma função cuidadora. Há crianças que só têm pai, outras só tem mãe, outras só tem os avós, outras uma tia, outras talvez um/uma amigo/a. Dito assim, parece algo óbvio. Mas a escola considera essas características quando pensa em seu cotidiano? Que sentido tem “trabalhar” o dia das mães, o dia dos pais? Qual o significado que tem elaborar um cartão ou um desenho para uma criança cujo pai não existe? Cuja mãe não existe? Ou mesmo, se nessa relação há algo de ruim? Trabalhamos muitíssimas vezes com base em estereótipos, achando – por exemplo – que todas as mães são boas, que “mãe é mãe”, entre outros. Não é verdade que é sempre assim. Qual seria a saída? Trabalhar com base na realidade. Talvez não fazer uma festa para as mães ou festa para os pais, o mais adequado seria fazer uma “festa da família”, um cartão “pra quem cuida de mim”... Ainda em relação às famílias, reclama-se muito que geralmente as famílias não aparecem nas reuniões. Mas já pararam pra reparar nos horários das reuniões? 7h00 da manhã, 10h30 da manhã, 14h00... desconsiderando que muitos dos membros dessas famílias são trabalhadores que, nesses horários, não podem comparecer à escola. Que tal realizar reuniões à noite? Aos sábados? Que tal fazer uma pesquisa com as famílias pra saber quais os melhores dias e horários para as reuniões? É o espaço público trabalhando para o público. Difícil? Quem disse que seria fácil trabalhar com a diversidade? Mas uma escola que se propõe a tal intuito, precisa – no mínimo – fazer essa reflexão. Pois no discurso educacional (escrito ou falado) cabe tudo. Quero ver é trazer isso para a prática.

A reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação teoria/prática, sem a qual a teoria pode ir virando blábláblá e a prática, ativismo.” (Paulo Freire)

Referência Bibliográfica:
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo, Paz e Terra, 1996, pág. 24.

2 comentários:

  1. Professora Edna,

    Esta é ainda uma realidade muito arraigada nas escola. No Concórdia já havia o dia da família, o que num primeiro momento causou estranhamento entre o grupo de professores, mas que ganhou uma bonita forma de receber as pessoas que participam da vida da criança e pelas quais elas sentem amor e sentimento de gratidão. Trabalhei também numa escola pública onde as reuniões aconteciam em horário letivo, de segunda à sexta, a frequencia era baixa, mas o conceito era de que os "assuntos" da escola, inclusive reuniões e conselhos de classe deveriam ser administrados e resolvidos "na escola" e dentro do horário de "expediente". Quem ganha e quem perde? Bom... há muito que conversar a respeito.

    Beijokas
    Dagui

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    1. Oi Dagmar, querida, obrigada pela sua colaboração. Voc~e tem razão, as questões quem ganha e quem perde?, devem ser acompanhadas por duas outras: qual a nossa concepção de educação? De que lado estamos? Precisamos mesmo, continuar a conversa com cada vez mais pessoas...beijos

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